sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Túnel do tempo: Alô, alô marciano


Data de Publicação: 5 de agosto de 2006
ENTREVISTA - Elba Ramalho

A paraibana Elba Ramalho é um nome que ultrapassa as fronteiras brasileiras com uma intensa agenda de shows pelo mundo. Foi no sertão, onde viveu a infância, que passou a assimilar ritmos regionais como baião, maracatu, xote, frevo, pastoril, caboclinhos e forrós. Isso, influenciou decisivamente sua formação musical, determinando um estilo que é bem dela.

Foi atriz, cursou Economia e Sociologia e desistiu do diploma, indo morar no Rio de Janeiro, em 1974, para fazer teatro, mas a sedução da música foi mais forte, e, quatro anos depois, participava da peça “Ópera do Malandro”, de Chico Buarque, que abriu-lhe as portas para o sucesso, conquistando prêmios e seu primeiro contrato como cantora com a gravadora CBS.

Hoje, está na lista dos artistas que mais vendem discos. Na entrevista que segue ela fala sobre a crise ética que o país enfrenta, comenta sobre as polêmicas em que se viu envolvida, involuntariamente, ressaltando que é no palco, cantando, que se sente mais viva.

Garante, inclusive, que existem, sim, ETs e que já teve muitas experiências elucidativas.

Marcone Formiga - Como você está vendo o Brasil, hoje?
Elba Ramalho - O meu olhar panorâmico está sempre no mundo, de modo geral. Evidentemente, o foco principal é o Brasil, porque é aqui onde eu vivo e sinto com mais presença e força todos os efeitos - tanto os positivos como os negativos. Acho o Brasil um país com uma história política muito conturbada. A ditadura militar foi uma página de terror, que, com uma luta, o povo brasileiro conseguiu virar. Mas, de lá para cá, eu sinto como se não tivéssemos nos acertado ainda. Parece que ficamos tontos e perdemos um pouco de discernimento e consciência. Tudo que temos feito politicamente, nesses anos, foi na tentativa de estabilizar o país, em todos os sentidos, principalmente na economia, porque se a economia não vai bem, o resto do país se esfacela, fazendo sofrer principalmente as minorias, que são as classes menos privilegiadas.

Marcone Formiga - Você está pessimista?
Elba Ramalho - Eu olho o momento político atual com certa tristeza, com todo esse quadro político vergonhoso em que vivemos. Tem hora que eu penso se não vivemos em um pesadelo, onde não conseguimos discernir o bem do mal, nos deixando seduzir por um engodo, algo que parecia ser o que não é. Mesmo com toda corrupção, não vejo nossos representantes fazendo nenhuma melhoria. Mesmo que sendo um engodo aos meus olhos, melhor seria se fizessem algum bem. Mas, não vejo o país crescer. Vejo uma situação turva no país... Mas, vejo, também, o Brasil como um país do futuro, que tem uma concepção de crescer e se estabilizar como um dos países mais importantes do planeta, caso venhamos a consertar esses erros que acontecem. Então, ainda tenho otimismo dentro de mim.

Marcone Formiga - O problema é que esse futuro parece não chegar nunca...
Elba Ramalho - É! Fala-se que o futuro não chega nunca, mas eu acho que ele chegará. E chegará sabe quando? Quando esses muros caírem. O primeiro a cair deve ser o muro do preconceito. Os muros cairão quando o mal for dominado, de um modo geral; quando o povo souber fazer essa distinção. A política é uma coisa material, e eu falo muito por metáforas, no sentido espiritual. No sentido concreto, literal, será quando os políticos corruptos forem para a cadeia; quando houver justiça e esses grupos travestidos de cordeiros demonstrarem sua verdadeira face; quando soubermos eleger para dirigir o país uma pessoa séria, que venha com amor no coração, com Deus. Que seja uma pessoa sincera, não seja um populista.

Marcone Formiga - Por quê?
Elba Ramalho - O poder, hoje, está cheio de lobos mostrando face de cordeiro. E, por incrível que pareça, o povo brasileiro se ilude muito facilmente. O povo está tão carente e necessitado que acredita em qualquer coisa. Há uma carência do povo brasileiro, uma necessidade de melhorar, de viver com mais tranqüilidade. Eu sinto que há boa fé no nosso povo. Será essa boa fé que fará que o Brasil dê a sua volta por cima. As eleições deste ano serão decisivas. Se errarmos, poderemos viver no caos pelos próximos quatro, seis, oito anos...

Marcone Formiga - Temos dois aspectos aí: a impunidade e a cultura da esperteza que está prevalecendo no Brasil. As pessoas vão acabar optando pela criminalidade, pela corrupção, porque não acontece nada...
Elba Ramalho - O que leva o Brasil a esse conflito social, que prefiro chamar de guerra social, é exatamente isso - a impunidade, as leis retrógradas que necessitam ser renovadas. As leis não precisam ser demolidas, mas atualizadas. É um novo tempo, é uma nova era, um novo conceito, novo pensamento. É preciso agilizar e flexibilizar a lei, para que ela exerça melhor o seu papel. Quanto à questão do poder, eu acho que nós estamos na mão do mal, da Besta do Apocalipse, que é o materialismo. Vivemos em um mundo devorador.

Marcone Formiga - Por exemplo.
Elba Ramalho - No meu ponto de vista, a globalização, exemplificando no setor cultural, toca nas rádios a música americana, mas não toca a música do Taiti Não era para ser uma globalização, de todo mundo?! Os espaços continuam sendo das minorias poderosas, que acaba sendo uma maioria, por causa da impunidade, da camuflagem. O povo se sente lesado e resolve roubar também, vê casos de homicídio e resolve matar também. Perdeu-se a moral e a ética. Eles se perderam de Deus e por isso usam da maior deslealdade para ludibriar, para enganar. Aí é gerado esse conflito social - o povo fica pobre, a opressão aumenta e as pessoas acabam querendo fazer justiça com as próprias mãos, e nisso acabam vitimando pessoas inocentes. Os inocentes é que estão pagando caro.

Marcone Formiga - Você falou agora da importância das eleições. O presidente Lula prometeu acabar com a corrupção, zerar a fome, gerar 10 milhões de empregos... O povo não vai entrar em um sentimento de desilusão, desacreditando dos seus governantes... Isso não é um perigo para o país?
Elba Ramalho - É um perigo, realmente! Eu, particularmente, tenho tentado não atacar diretamente o Lula... Estou sendo generosa porque eu não gosto de julgar nem criticar ninguém, nem acusar. Mas o que foi mostrado nesses últimos meses pela imprensa é um alto esquema de corrupção no país envolvendo, justamente, o partido que se apresenta no poder. Isso é altamente comprometedor. Por mais que ele se disfarce de cordeiro, ele é louco ou é muito alienado... O que foi demonstrado não poderia estar mais claro para nós.

Marcone Formiga - Qual é o papel do povo nisso tudo?
Elba Ramalho - É incrível que o povo não tenha tomado consciência disso. O povo continua iludido com as cestas básicas que recebe. O governo atual tem uma face populista muito triste, extremamente mentirosa, mas que consegue enganar. Falam que estão acabando com a fome... A gente sabe que não! Isso tudo é paliativo. Estão colocando migalhas na boca do povo para conseguir mais votos. A própria questão da transposição do rio São Francisco, um projeto audacioso e completamente equivocado, é para, mais uma vez, se utilizar da miserável seca, que mata e degrada o povo nordestino, ganhar votos. É para dizer que o governo vai resolver o problema da seca do Nordeste, fazendo a transposição de um rio de uma forma irresponsável, sem transparência nenhuma, sem um diálogo profundo com as várias ONGs do mundo todo e com a população. Enfim, temos que ver tudo isso. Não estou dizendo que ele é de todo ruim, porque ele deve ter qualidades e virtudes... Mas, até agora, como cidadã brasileira que paga seus impostos, sinto-me sinto enganada, ludibriada. A fé velada nele, foi velada por ele próprio.

Marcone Formiga - A violência urbana crescente, o crime organizado... Pode ser um barril de pólvora?
Elba Ramalho - Com certeza! É um barril de pólvora. O crime organizado possui certamente uma manutenção feita por poderosos, porque esse barril não está se desmanchando. Nós temos capacidade. Investimos tanto em Exército, em segurança máxima, para que então? Para não termos acesso a ela? Se a polícia está vendida, também faz parte desse esquema de muitos políticos, como o cidadão brasileiro se sente? Estou perguntando se, fazendo uma condicional. Se for assim, como a gente se sente, já que despendemos boa parte dos nossos salários para prover a sociedade organizada? Por que ela não resolve, não destrói esses cartéis da corrupção, das drogas, que geram violência, principalmente nos grandes centros, vitimando inocentes? Por que o governo não age, também, para tentar tirar das áreas de violência os pobres, tantos inocentes? Eu não vejo o povo receber benefício nenhum. Pelo contrário, o povo está em um emaranhado, no meio de um furacão.

Marcone Formiga - Por que você é contra a transposição do rio São Francisco?
Elba Ramalho - O que eu quero é muita transparência no debate em torno da transposição. Ou seja, um debate com a população e uma revitalização do rio antes de se pensar em transposição. Em nenhum momento eu disse que o Nordeste não precisa de água. Pelo contrário, precisa, sim, de água, logicamente. Mas, meu pensamento é puramente ecológico e naturalista, tanto é que sou associada à várias ONGs que estão ligadas à luta pela preservação do planeta, que está se acabando. Mas, tudo bem. Continuo firme contra a transposição do rio São Francisco. Acho que Deus fez dessa maneira e não podemos mexer mais na natureza, que já está muito violada, violentada. É bom que procuremos preservá-la, ao invés de destruí-la. Penso também nos ribeirinhos, sei que o rio está enfraquecido em muitas áreas, não na sua nascente mas na sua foz. Espero que o rio possa gerar alguma semente positiva e que o diálogo seja aberto. Que os próximos governantes, ao invés de se utilizarem de projetos audaciosos e biliardários, possam transformar isso em algo concreto, levando água para o povo do Nordeste de forma muito menos onerosa.

Marcone Formiga - Afinal, o povo quer ou não receber água?
Elba Ramalho - Atribuem a mim esse conceito, que não procede, é mentiroso. Eu nasci no sertão da Paraíba, vi a seca de perto, não em literatura. Sei o que é a fome e a sede do sertanejo, que, antes de qualquer coisa, é um forte, para lembrar Euclides da Cunha. Já vi muita gente morrendo de sede. Inclusive, recordo-me muito bem, o meu pai perfurou um poço no quintal da nossa casa, para nos saciar a sede. Eu jamais diria que o povo não quer receber água...

Marcone Formiga - Essa é apenas uma das polêmicas que você se envolveu. Também tem aquela de contatos com ETs...
Elba Ramalho - (Se antecipa em responder antes que a pergunta seja formulada) Quero esclarecer uma coisa a você: eu nunca revelei que fui chipada. Aquilo que foi publicado pela mídia não é verdade. Eu participei de um congresso de ufologia em Curitiba, o que acabou gerando aquela matéria. Não declarei aquilo. Tratou-se de uma palestra interna que eu fiz no congresso, e um jornalista ouviu, o que acabou gerando aquilo tudo. Isso não quer dizer que eu não acredite nos ETs. Eu acredito e tenho muito conhecimento de causa, senão eu não teria sido convidada para fazer palestra em um congresso internacional, onde estavam vários estudiosos e ufólogos famosos no mundo todo.

Marcone Formiga - E quanto ao chip que teriam colocado em você? (Em maio de 2001 a revista Veja atribuiu a Elba a revelação que extraterrestres lhe implantaram um micro-chip, que teria sido retirado mais tarde por “seres celestiais ultra-supra-luminosos”)
Elba Ramalho - A questão do chip foi um equívoco enorme. Eu até hoje tenho que explicar às pessoas que eu não tenho a menor consciência de que fui chipada... Não! Não aconteceu nada disso. Aquilo foi completamente equivocado. Eu prefiro nem falar, porque, quanto mais eu falar, mais vai se tornar incompreensível, ilegível e intraduzível para as pessoas. Eu continuo firme no que acredito. Vivi várias experiências, mas não essa que a revista publicou, que foi causada por um oportunismo de setores da mídia, que queriam uma entrevista risível. Fui mais uma vítima desse tipo de matéria bombástica e sensacionalista. Até hoje eu tento explicar isso às pessoas, mas eu não consigo. Vou dizer o quê? Eu estava em um congresso, falando de extraterrestres, de pesquisas que eu tinha há mais de 10 anos, mas não fiz aquela revelacào.. Aquilo saiu contra a minha vontade e sem o meu consentimento.

Marcone Formiga - Mas, você está convencida da existência de extraterrestres?
Elba Ramalho - Absolutamente! Sem dúvida nenhuma! O ET é aquele ser que vem de fora da Terra - os extraterrestres. Partindo daí, existem vários caminhos para se optar e estudar. As pessoas têm que ter o discernimento a partir do conhecimento. Se querem discutir o assunto, conheçam, estudem, pesquisem, como eu faço. Hoje, existem várias provas, vários vídeos, nesses congressos de ufologia, mostrados no mundo material. Não tem como fugir ou negar. No próprio Nordeste, conheci várias pessoas que tiveram esse tipo de experiência - umas boas e outras negativas. Eu tenho um material de pesquisa enorme, falo com conhecimento de causa... Mas é um assunto que não me interessa mais, que já passou. Deixei o assunto na minha gaveta. Deixa isso para os ufólogos fazerem. Um dia, as revelações virão a cada um...

Marcone Formiga - Polêmica, pelo jeito, é com você... E quanto a santa que chora mel?
Elba Ramalho - Realmente, em uma entrevista ao Amaury Jr., para a Rede TV!, eu contei que possuo uma imagem de Nossa Senhora que está chorando lágrimas de mel. É a pura verdade! Para mim, que tenho muita fé, graças a Deus, esse foi um sinal divino! Na verdade, eu pretendia guardar esse segredo, com receio que interpretassem mal essa realidade, como fizeram quando falei em discos voadores, atribuindo a mim o que não falei, como o implante de um chip. O fato é que a santa está em minha casa de Trancoso, no litoral da Bahia. Muita gente tem alcançado graça. Mas isso é para quem acredita, tem fé. Quem não acreditar, paciência...

Marcone Formiga - Você não se sente discriminada, por ser mulher, artista e nordestina? Como reage aos preconceitos?
Elba Ramalho - Quer saber de uma coisa? Não dou a menor importância a essas coisas. Principalmente porque sou o que sou. Conquistei meu espaço com muito trabalho e talento, atropelando toda hipocrisia que encontrava no caminho. Discriminados, no entanto, deveriam ser os corruptos, os ladrões do dinheiro público. Não foi fácil. Teve dias que eu não tinha sequer o almoço ou jantar. Passei fome e não me envergonho disso. Mas tudo isso fez de mim uma mulher forte, determinada, com fé em Deus. Fortalecida de corpo e alma.

Marcone Formiga - O que falta para melhorar?
Elba Ramalho - Ah, muita coisa... Para começar, largar mais dessas coisas do mundo, como a vaidade, por exemplo, para ajudar meus semelhantes. No dia que eu não tiver apego nenhum, me considerarei uma pessoa vitoriosa, totalmente realizada. Poderei afirmar, com firmeza, que, a exemplo de Jesus, nosso senhor e mestre, que venci na vida...

Marcone Formiga - Para resumir tudo o que você falou nesta entrevista, existe alguma música, mesmo que não esteja em seu repertório?
Elba Ramalho - (Faz uma pausa, pensa, e cantarola) - Alô, alô marciano/Aqui quem fala é da Terra/ Pra variar estamos em guerra/ Você não imagina a loucura/ O ser humano está na maior fissura/ A crise ta virando zona/É cada um por si/ E todo mundo na lona...

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