sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A Elba do forró

Paralelo à turnê pelo Brasil de raízes e antenas, a cantora Elba Ramalho faz show de forró em Fortaleza, amanhã, 20, antecipando o lançamento de um CD de xote e baião previsto para março

A Elba Ramalho que volta a Fortaleza é a do forró. “Vai ser (um show) alegre, vai botar a galera para dançar. Simpatizei com a casa”, resume os motivos de trazer à cidade a antecipação de seu CD Balaio de amor, que acabou de gravar em casa e só deverá ser lançado em março de 2009. Gostoso que só ele, é o que a cantora garante. De tão intensa, a Elba da vida afetiva e da carreira se misturam no palco e a cada trabalho novo. O momento atual é de mudanças e, ao mesmo tempo, retorno no trabalho. Após a gravação no selo próprio Ramax do CD Qual o assunto que mais lhe interessa?, uma mistura de samba, cirandas, xotes, batuques regionalistas e até breves levadas de rock e soul, a cantora paraibana se lança novamente com o forró. Provavelmente, nunca saiu dele.

O ano de 2009 também reúne três décadas de carreira que começou nos palcos de um teatro, juntando música e interpretação. As comemorações começam com o novo CD de sucessos do xote e baião, continuam com um trabalho de São João e ainda devem terminar com uma releitura da obra de um amigo seu. Zé Ramalho ou Chico Buarque. Talvez.

Foi quando acabava de botar os pés em solo brasiliense na última terça que a cantora falou ao O POVO, por telefone. De lá, parte em turnê no Nordeste na companhia das três filhas, uma delas recém-chegada, Maria Paula, de 5 anos. Na conversa, a promessa de um trabalho totalmente de raiz. Sanfonas, violas, zabumbas, triângulos e um repertório, segundo ela, de extremo bom gosto. “Quanto mais regional, mais universal eu me torno”.

O POVO - A impressão de ver uma apresentação da Elba é assistir a alguém sempre tão cheia de energia. O seu último trabalho, Qual o assunto que mais lhe interessa?, que resultou no show e DVD Raízes e Antenas, você está mais introspectiva. Como tem sido a reação a esta Elba mais intimista?
Elba Ramalho - É uma experiência fazer shows em teatros. Aliás, toda a turnê Raízes e Antenas foi feita em teatro. Foi maravilhoso. Música é música e público é público, não importa se as pessoas estão em pé ou sentadas, não é verdade? O que importa é que, embora o show enxugue tecnicamente e mude em recursos, nunca perde a emoção, acaba sendo bacana do mesmo jeito. E eu gosto das duas coisas, tanto de fazer festa na rua, em que as pessoas participam, como gosto de fazer shows em que as pessoas assistam, com cenário, uma super banda.

OP - E que faceta da Elba vamos assistir em Fortaleza?
Elba - Esse vai ser um show de forró. Vai ser alegre, vai botar a galera para dançar. Simpatizei com a casa (Kukukaya), conheci os donos e será um show dedicado à minha ONG, Bate Coração, que trabalha com crianças.

OP - O ano de 2008 apresentou mudanças significativas na sua carreira, como o lançamento de seu primeiro álbum com selo independente. O ano que está acabando trouxe outras importantes transformações na maneira com que você encara o seu trabalho?
Elba - Essas mudanças representam um momento que o artista vivencia. Num momento você está mais intimista, no outro, você está fora. Por exemplo, meu novo disco que sai em 2009 é um disco só de xote e de baião. É um disco muito alegre, de sucessos. Só música para o povo cantar e dançar. Será um disco que tem um sentimento muito romântico e, para isso, escolhi compositores que traduzam o lado romântico da nova fase da música nordestina. E esse próximo disco vem totalmente diferente do Qual assunto... Cada momento tem seu reflexo. Eu sou uma pessoa muito versátil, fui atriz... De Chico Buarque a Luiz Gonzaga, para mim, é muito fácil interpretar qualquer canção.

OP - Na verdade, não se trata tanto de um retorno ao forró, já que o ritmo nunca saiu do seu trabalho. Essa sua raiz com o forró de onde começa e onde ela te alcança?
Elba - Ela vem da minha essência mesmo, da minha base que é o nordeste, que é o sertão, que é a voz de Gonzaga, a voz Dominguinhos, a voz de Marinês, de Jackson do Pandeiro. Ela vem como uma fonte que nunca seca e está ali sempre à disposição para a gente beber dessa água cristalina que é a cultura popular nordestina, apesar de eu ter uma formação totalmente diferente. Moro no Rio de Janeiro há 35 anos, fiz teatro, interpretei vários compositores brasileiros e estrangeiros, transito com facilidade na música do mundo todo, porque ouço, gosto e compreendo de uma forma muito universal. Eu nunca regionalizo as coisas, mas a minha essência e a minha base está ali, no regional. Quanto mais regional, mais universal eu me torno. Esse rótulo me cabe muito bem e eu o aceito com muita serenidade.

OP - Sua imagem é a de uma cantora nordestina, embora seu repertório inclua os mais diversos gêneros musicais. Incomoda a você que cantores do Nordeste sempre carreguem o título de cantores de música nordestina quando, muitas vezes, dialoga com o nacional e até com o universal?
Elba - Não me incomoda. Eu sei que eu posso fazer várias coisas, pela minha capacidade artística e vocal, e pelo conhecimento e intimidade com a música. Eu sou regional. Eu nasci numa região e a tenho na veia e no coração. O que me faz pulsar e nutrir todos os sentimentos hoje é a cultura do meu povo, o jeito de ser da minha gente. Eu me sinto confortável sendo uma cantora regional mesmo sabendo que posso cantar uma ópera amanhã.

OP - Você pode adiantar como será o novo trabalho?
Elba - O Balaio de amor, já foi todo gravado, já está em processo de mixagem e deve ser lançado em março. Foi produzido pelo Cezinha (do Acordeon) e por mim. Gravei os melhores nomes dessa nova geração, Accioly Neto, Jorge de Altinho, Petrúcio Amorim, Chico Bezerra. São sucessos, algumas das músicas já tocaram muito por aí, outras inéditas, do Nando Cordel, do Dominguinhos.

OP - Qual assunto... lhe rendeu o Grammy Latino na categoria álbum de música contemporânea regional. Isso é reflexo de uma maior liberdade num o selo independente?
Elba - Talvez esse disco novo, Balaio de amor, saia pela Biscoito Fino ou quem sabe pela EMI. Eu não sou uma pessoa que define as coisas com radicalismo. Eu tenho meu selo, gravo no meu estúdio, mas eu posso distribuí-lo na parceria com qualquer multinacional. O Qual assunto... foi um momento de muita liberdade, eu estava querendo alçar um outro vôo e olhar a minha carreira de forma diferenciada nesse instante. Foi tranqüilo porque sou uma artista que já consegui ter meu espaço e minha identidade própria, o que é fácil trabalhar quando já se está estabelecida. Busquei esse trabalho independente de acordo com a minha conveniência, o meu tempo, foi uma experiência bem positiva. Está sendo, né? Porque o Balaio de amor foi um disco que eu acabei de gravar na minha casa, no meu estúdio e isso me dá muita alegria.

OP - Você procura acompanhar o que vem sendo feito na cultura popular, os novos talentos que vão surgindo?
Elba - Claro, eu ouço tudo. Gosto de estar antenada, vou a vários shows e isso é fundamental. A música tem esse poder divino de transcender. A música brasileira é muito rica e procuro ouvir, na medida do possível, tudo que se faz no mundo, do reggae ao rock, o pop o popular, a MPB, o blues e o jazz. O importante é que seja música boa. Durante as turnês, quando dá tempo, eu procuro acompanhar grupos locais, mas quando está muito regionalizado, fica difícil.

OP - No início da sua carreira, música e teatro andavam de mãos dadas. Isso se reflete hoje nos seus shows? De que forma?
Elba - É da atriz que vem o primeiro olhar. Eu consigo perfeitamente colocar no palco a força, a carga dramática que eu adquiri ao longo de tantos anos passando pelas mãos e pelas rédeas do teatro. Enfrento qualquer platéia de qualquer lugar do mundo com tranqüilidade por conta do teatro. O teatro nunca vai sair de mim.

OP - Como serão ser as comemorações dos seus 30 anos de carreira, completos em 2009?
Elba - Um dos discos de comemoração é o Balaio de amor. Estou pensando em reler a obra de Zé Ramalho, mas ainda não é uma coisa definitiva. Eu pensei em reler Chico (Buarque), e depois pensei no Zé, vamos ver. Vou caminhar mais um pouco. Estou com esses projetos buscando aprovação na Lei Rouanet. Pretendo gravar um DVD nas festas juninas para a grande massa aí vai ser um trabalho completamente diferente, já que esse DVD Raízes e Antenas foi gravado num teatro. Eu quero fazer o que faço normalmente, que é comunicação com grandes platéias.

OP - Tem alguém que você gostaria de compartilhar um trabalho, mas ainda não teve oportunidade nesses 30 anos de carreira?
Elba - Muitos. Uma galera que eu nunca compartilhei um disco, como o Fagner, que é uma pessoa que eu tenho uma identificação grande, um grande artista, um grande cantor. Tem tanta gente maravilhosa, com a Maria Bethânia e todo mundo me compara com ela pela força pela presença do palco. Vamos ver, tem muita gente aí.

SERVIÇO
Show de Elba Ramalho
Neste sábado, 20, no Kukukaya (avenida Pontes Vieira, 55), a partir das 21 horas. Apresentação também de Sergiane, Bob Araújo e Zé de Manu. Ingressos: R$ 30 (antecipado). Informações: 3227 5661.


Créditos: O Povo

Por: Angélica Feitosa

Nenhum comentário: