segunda-feira, 9 de março de 2009

Belíssimas e Favoritas O Show

O Sesc Pompéia resolveu, para comemorar o Dia Internacional da Mulher, montar um show chamado Belíssimas e Favoritas, com a proposta de apresentar ao público os seus temas favoritos de novelas nas vozes de quatro belíssimas intérpretes brasileiras: Elba Ramalho, Zezé Motta, Daniela Lasálvia e Érica Martins. Para acompanhá-las foi escolhida a banda do músico gaúcho Astronauta Pinguim. O show foi um deleite para os noveleiros de plantão, que puderam rememorar suas estórias prediletas ao som das canções que as embalaram, e também para aqueles que são somente apreciadores da música brasileira, já que o show, antes de mostrar simplesmente temas de novelas, apresentou clássicos da MPB de todos as épocas que embalaram os folhetins.
A apresentação começou de maneira apoteótica com uma versão instrumental do tema de abertura de Pantanal. Destaque para um serrote, tocado como violino, fazendo às vezes dos vocais da gravação original. Ao final da canção, Pinguim anuncia a primeira convidada da noite: a cantora Daniela Lasálvia. Dani foi, sem dúvida nenhuma, um dos grandes destaques da noite. Cantora afinadíssima, de um timbre belíssimo, encantou a platéia com suas interpretações de Mentiras, Fera Ferida, 20 e Poucos Anos e Meu Mundo e Nada Mais. E essa era apenas a sua primeira entrada no show. Realmente uma cantora com letras maiúsculas; eu não conhecia e me encantei. Vale a pena conhecer!
A segunda convidada a subir ao palco foi a baiana Érika Martins, ex-vocalista da banda de rock Penélope. Iniciou sua apresentação cantando Estúpido Cúpido e, em seguida, lembrou a dupla Faísca e Espoleta, cantando Beijinho Doce. Este, com certeza, seria um momento de grande participação da platéia, se não fosse pelo fato de, aí, ter começado a ficar evidente o que seria um, digamos assim, “ponto fraco” do show: as modificações extremas nos arranjos originais das canções, o que acabava, em alguns casos, descaracterizando-as. Foi o que aconteceu com Beijinho Doce; a levada roqueira impressa pela banda, tirou todo o ar sertanejo, interiorano da canção e acabou não empolgando o público, que se quer, se ouvia quando tentou cantar junto, tamanho o peso do arranjo.
Eis então que entra no palco, ovacionada pela platéia, a grande Zezé Motta, cantando um clássico de Dorival Caymmi: Retirantes. Sua voz rouca e poderosa impressiona ao vivo.
Após essa pequena participação de Zezé, quem volta ao palco é Dani Lasálvia, cantando Nuvem Passageira, e novamente, o “tocador de serrote” dá um charme todo especial ao arranjo. Além da homenagem a Kleiton e Kledir, Dani homenageou também Zizi Possi, emendando três canções de grande sucesso na voz da intérprete nos folhetins da telinha: Asa Morena, Perigo e Per Amore, num lindo momento de voz e violão. Mais um show de Lasálvia, que é aclamada pelo público.
Zezé Motta volta então ao palco e protagoniza um momento constrangedor do show: o arranjo absurdamente estranho criado por Pingüim e Cia para Pecado Capital não funciona e Zezé, completamente perdida, acaba desafinando demais. E o triste foi que muita gente percebeu; ao meu lado ouvi muitos comentando o quanto ela havia desafinado. Não precisa inventar tanto; Zezé arrasaria se cantasse Pecado Capital como a música, de fato, é. Mas, na seqüência, ela volta a conquistar o público com seu talento em interpretações primorosas, embora um tanto presas por não ter decorado a letra, de Plumas e Paetês e Querida de Tom Jobim.
Na seqüência, é Érika quem volta ao palco e homenageia Rita Lee, num grande pout-pourrit incluindo os sucessos Flagra, Baila Comigo, Doce Vampiro e Ovelha Negra. A cantora, então, diz que todos os arranjos ficaram maravilhosos, mas que o da próxima canção ficou especial. No entanto, observa que espera que o público não mate a cantora e a banda depois de ouvi-lo e, novamente, ocorre um momento de “invencionisse” exagerada e desnecessária. Modinha para Gabriela é transformada num rock, com uma introdução techno, com direito a vozes distorcidas na famosa “quando eu vim para este mundo...”. Não precisava de nada disso, mas, ao menos, ao contrário do que aconteceu em Pecado Capital, Érika, acostumada com o estilo roqueiro, conseguiu dar conta do recado muito bem.
Eis então que Pingüim anuncia seu mais novo amigo, dizendo: no sul nos chamamos de gaiteiro, mas no Recife é sanfoneiro, não é? E sobe ao palco Cezinha. E em seguida, é anunciada a próxima convidada, a mais que esperada, Elba Ramalho. O público a recebe de forma extremamente calorosa; a grande maioria estava ali, de fato, apenas para vê-la e ouvi-la. Elba surge linda, num vestido brilhante dourado, curtíssimo, exibindo suas belas e famosas pernas, cada vez mais torneadas. Entra cantando De Volta pro Aconchego, seu maior sucesso, o clássico que embalou a emblemática Roque Santeiro. É a volta da delicadeza ao palco do Sesc. Agora sim o público se ouve e canta junto com a diva, num grande coral, a obra-prima dos mestres Dominguinhos e Nando Cordel. Pela segunda canção cantada por Elba, com sua interpretação tão pungente, já valeria a pena ter ido ao Sesc naquela noite congestionada de sexta-feira em São Paulo. Ouvindo Elba cantar com tanta força e tanta emoção Pavão Mysteriozo, eu (e tenho certeza que todo o público), fui ao êxtase. Que trânsito, que congestionamento... Naquele momento só os pavões da voz de Elba que me interessavam... O show da flor da Paraíba continua com um versão espetacular de Folhetim, executada por ela e Cezinha sozinhos no palco. Um dueto de sanfona e voz, de cantora e sanfoneiro, de olhares, de gestos... Emoção a flor da pele. E, como sempre quando interpreta essa canção, Elba brincou de atriz com o público, sentando no colo de senhores da platéia, cheia de trejeitos e malícia. Terminado o Folhetim, volta a banda ao palco para, junto com Elba e Cezinha, puxarem mais um coro da platéia em Ciranda da Rosa Vermelha. A parte solo de Elba é encerrada de forma arrebatadora com sua interpretação rara e personalíssima de Admirável Gado Novo composta por seu primo Zé Ramalho.
A noite termina em festa, com as quatro belíssimas cantoras, cantando juntas Dancing Days e a emblemática Brasil de Cazuza. A platéia agora dança ao som de suas canções favoritas cantada por suas belíssimas musas...

Créditos: Gabriel Lima

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