domingo, 29 de março de 2009

Elba acústica no Tom Jazz em São Paulo

Elba fez ontem (sexta-feira) o primeiro show de sua mini-temporada ELBA ACÚSTICA no Tom Jazz em São Paulo. As pessoas que comparecerem a aconchegante casa paulistana (200 pessoas é a capacidade máxima da casa) puderam conferir uma performance única da tão sempre elétrica Elba Ramalho. O ambiente acolhedor, pequenininho proporcionou uma cumplicidade direta entre platéia e cantora, muito próximos um do outro. (Minha mesa, por exemplo, estava a poucos centímetros do palco). A cantora seria acompanhada nesta noite apenas por sanfona (Cezinha) e violão (Marcos Arcanjo). Com uma dupla dessas, precisa mais? Definitivamente não!
Elba Ramalho entrou lindíssima com o mesmo exuberante vestido branco que usava no momento em que caiu do palco do Recife, provando, mais uma vez, que a cantora e o vestido saíram intactos do “vôo” em terras pernambucanas. A entrada de Elba foi ao som de Como Dois e Dois, composição de Caetano Veloso, grande sucesso na voz de Roberto Carlos e que a cantora já havia interpretado em show recente no Memorial da América Latina e há alguns anos atrás em seu show no Bourbon Street, outra casa de jazz paulistana. Na seqüência cantou Belchior (A Palo Seco), Gostoso Demais (um grande coral se formou na casa para acompanhar Elba) e o xote Onde Está Você do projeto Elba e Dominguinhos. Houve a já tradicional homenagem a Accioly Neto com Espumas ao Vento (arranjo lindo, totalmente acústico na primeira parte, comandado pelo competente violão de Marcos Arcanjo, e com a sanfona dando o balanço a partir da segunda parte), Lembrança de um Beijo e A Natureza das Coisas (com refrão cantado em coro pela platéia). Elba mostrou então É Só Você Querer, canção do novo cd Balaio de Amor, cantada em dueto afinadíssimo com Cezinha e, em seguida, disse que havia preparado algumas coisas diferentes para aquele show. A cantora falou que poderia sim chegar lá e cantar Bate Coração e outros sucessos – e ela mesma disse que cantaria também o que os fãs quisessem ouvir – mas, se não tivesse um momento de ousadia, para ela sentir aquele friozinho na barriga, ficar com medo de errar a letra, de entrar na hora errada, o show não teria graça... Eis então que Elba encanta, mais uma vez, por seu talento, bom gosto e ecletismo. Reviveu lindamente um samba muito antigo, composto por Bororó e gravado por Orlando Silva, e chamado Curare. O público veio abaixo com sua interpretação. Na seqüência ficou conversando um pouco com o público e disse que estava enrolando porque tinha escolhido uma música “casca grossa” para cantar: queria homenagear Elizeth Cardozo – na opinião dela uma das maiores cantoras que o Brasil já teve – cantando Doce de Coco de Jacob do Bandolim. Esse foi, em minha modesta opinião o momento mais sublime daquela noite... Lindo... Lindo... Lindo... Elba disse, ao final da canção, que o público jovem talvez não conhecesse Elizeth Cardozo e que sua obrigação como intérprete era eleger a canção mais bonita e resgatar as pérolas da mpb porque do jeito que as coisas andam, daqui a pouco os jovens nem saberão quem foi Elizeth, Jackson do Pandeiro... Aliás, foi Jackson que ela homenageou na seqüência cantando Chiclete com Banana. Elba também cantou Miss Celie’s Blues (Quincy Jones) – momento em que aproveitou para recordar a primeira vez que participou do Festival de Montreux na Suíça em 1981 e a sua participação mais recente em 2008. Ao final dessa canção, a flor da Paraíba disse que havia preparado mais duas surpresas para aquela noite: uma música do Chico Buarque emendada com Everytime Whe Say Goodbye de Cole Porter, mas, a música de Chico não havia ficado pronta porque Marcos Arcanjo não havia tido tempo de tirar a harmonia – Elba havia feito apenas um ensaio para esse show – Elba então disse para o público: a música de Chico era mais ou menos assim... E cantou, lindamente e na íntegra uma das mais belas composições buarqueanas: Todo Sentimento. Foi ovacionada pelo público, completamente seduzido por seu talento. E a canção de Cole Porter também ficou lindíssima na voz de Elba (na verdade, eu já havia ouvido Elba cantar essa canção também no show do Bourbon). Após esses momentos surpresas, Elba começou a atender o pedido dos fãs, primeiramente ela mesma pedindo para mostrar mais uma canção do novo trabalho – Me Dá Meu Coração (Accioly Netto). Cantou, na seqüência Chão de Giz, Veja (Margarida) (contando na introdução toda a sua chegada ao Rio e, posteriormente a São Paulo, no início da década de 70) e a trilogia buarquena: O Meu Amor, Palavra de Mulher e Folhetim. Para encerrar o show, disse que havia escolhido uma canção muito triste, mas belíssima: e mais uma vez deixou o Tom Jazz seduzido ao interpretar O Mundo é um Moinho, de Cartola. E é claro que depois houve De Volta pro Aconchego, um energizante Banho de Cheiro, La Vie en Rose (atendendo aos pedidos dos fãs) e até uma canção instrumental composta por Cezinha e interpretada por ele e Marcos Arcanjo.
Enfim, uma noite memorável que prova que, ao contrário de muitos “grandes” artistas por aí (muitos deles internacionais, inclusive), Elba não construiu uma carreira brilhante de 30 anos de música somente por causa dos espetáculos super-produzidos que sabe fazer tão bem. Tirando toda a super-produção e deixando no palco apenas a cantora e seus incríveis músicos ela mostra, de verdade, o que é ser superstar! Salve Elba sempre!

Créditos: Gabriel Lima

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