quinta-feira, 16 de abril de 2009

Apresentação do 'Balaio' de Elba

Elba inicia as comemorações dos 30 anos de carreira em álbum que reúne baiões e xotes de compositores pós-Luiz Gonzaga

Ao lançar em 1979, seu primeiro álbum “Ave de Prata”, Elba Ramalho ingressava pela porta da frente no cenário cultural brasileiro. O Brasil estava diante de uma nova artista, de verve expressionista, extremamente original e de performances incendiárias. Elba firmou-se e nunca mais saiu do seleto time principal da MPB.

Passadas três décadas, Elba alcançou muito mais que os horizontes do sertão. A intérprete de sucesso, com seis discos de platina e 13 de ouro acumulados, celebra sua trajetória com o disco “Balaio de Amor” (Biscoito Fino), uma ode ao Nordeste de compositores pós-Luiz Gonzaga.

Elba define o CD como uma homenagem ao baião e ao xote que, assim como o samba, têm a essência na brasilidade. “São canções que sobreviverão porque fazem parte da tradição de um povo”, afirma a cantora. Além disso, acrescenta, são músicas românticas, relativamente simples, mas de uma poesia muita rica. . “É um deleite para os ouvintes mais atentos. Um disco de amor, cheio de recados para quem gosta de dançar e que mostra uma alegria essencialmente nordestina. Tem muita sensibilidade.”, define.

Em “Balaio de Amor”, Elba retoma uma das principais características de sua carreira: a aposta em talentosos compositores, principalmente da Paraíba e de Pernambuco. Foi a intérprete quem primeiro gravou uma canção de Lenine e ajudou a projetar com registros antológicos Geraldo Azevedo, Belchior, Chico César, Lula Queiroga e outros. Produzido pelo compositor e músico Cezinha, o CD reúne uma boa safra de canções recentes, com belas melodias e letras poéticas, compostas por artistas que dificilmente rompem a barreira geográfica nordestina.

A cantora privilegiou selecionar canções que soassem praticamente inéditas nas demais regiões do país. “Algumas destas músicas são conhecidas pelos nordestinos e o povo acompanha as letras. Sempre fiz bem este trânsito do Nordeste com os outros cantos brasileiros, em meio a essa geografia imensa”.

De compositores já consagrados no eixo Centro-Sul do país, apenas duas faixas de Dominguinhos e uma de Nando Cordel. Do sanfoneiro, com quem já dividiu um álbum, registrou “Riso Cristalino”, parceria com Climério Ferreira, em que o compositor leva o acordeon com Cezinha e divide, com seu timbre grave, o vocal com Elba, e “Ilusão Nada Demais”, esta com Fausto Nilo, que conta com o sax soprano indefectível de Leo Gandelman.

Parceiro de Dominguinhos em dois supersucessos de Elba Ramalho; “Gostoso Demais” e “De Volta pro meu Aconchego”, Nando Cordel contribui com “É só Você Querer”, gravada em duo com Cezinha e já incluída na novela da 19h. da Rede Globo, Caras e Bocas. Com introdução lenta e dedilhada ao violão, a melódica composição conta com belo arranjo de cordas e samplers de cordas e já entra de antemão para o time de grandes canções românticas interpretadas por Elba.

Os demais compositores, que fecham as 14 faixas do CD, são em grande parte responsáveis pela renovação do forró – hoje já tão diversificado em subgêneros, como o pé-de-serra, o de latada e o universitário –, mas sempre calcado no tripé: sanfona, triângulo e zabumba. A base sonora clássica, comandada por Cezinha, é reforçada pela banda formada basicamente por guitarra/violão (Marcos Arcanjo), bateria (Tostão Queiroga), percussão (Anjo Caldas), pad (Zé Américo) e contrabaixo/baixo acústico (Fofão).

As participações do maestro Spok no sax alto, que comanda a orquestra pernambucana que leva seu nome, assim como Nilsinho, da Trombonada e outros dois músicos no, trompete e sax tenor são os responsáveis pelos naipes de metais injetados em “Não Lhe Solto Mais” (Antonio Barros/Ceceu), “Se Tu Quiser” (Xico Bezerra) e “Bebedouro”, esta última embalada pelo refrão radiofônico: “não suporto mais estas dúvidas. Minhas dúvidas”.

“Fuxico”, do compositor do sertão do Araripe Flávio Leandro já com oito CDs gravados, abre o disco como legítima representante do legado de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Em “Um Baião Chamado Saudade”, da dupla pernambucana Petrônio Amorim e Rogério Rangel, a sanfona chorada abriga os versos que falam de amor e perguntam “como tirar do coração o que não sai da cabeça”. A canção “Recado”, por sua vez, de Cezinha e Fábio Simões, é considerada pela cantora como uma das mais bonitas do disco. O título do álbum foi pincelado da faixa “Oferendar” (Xico Bezerra) que lança o verso inspirador: “cantando um balaio de amor pra dar”.

No balaio de Elba, os forrós ganham as nuances da intérprete singular que nunca abandonou a veia de atriz, a mesma que no passado abriu o caminho para a cantora. É no canto que Elba transparece a experiência de quem já percorreu os mais diversos palcos e amadureceu a voz. “Há 30 anos, quando lancei ‘Ave de Prata’ a intérprete vibrante e de timbre marcante já estava lá, mas aprendi a explorar outras regiões vocais; o grave e o médio. A ansiedade da iniciante, que arriscava tudo, deu lugar para uma artista mais serena e dona da arte do seu ofício”, avalia, com satisfação.

Créditos: Biscoito Fino

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