
A intérprete divide a cena com trio azeitado. Além de cantar É Só Você Querer em dueto com Elba, entrando no jogo de sedução proposto pela cantora e soltando sua voz que evoca o timbre de Dominguinhos, Cezinha do Acordeom se mostra seguro na sanfona, instrumento que se destaca na releitura de Gostoso Demais, a toada de Dominguinhos e Nando Cordel na qual a cantora injeta a pegada do xote e do baião. Marcos Arcanjo responde pela guitarra, pelo violão e pelos arranjos. Elber Caldas, o Anjo, comanda a percussão sutil e suave. Entrosado, o trio arma a cama para que Elba deite e role em roteiro que evita os hits obrigatórios (Chão de Giz e Banho de Cheiro, no fim, são as exceções) em favor de um repertório inédito da voz da intérprete. Entre músicas do estupendo álbum Qual o Assunto que Mais lhe Interessa? (2007), como Noite Severina e A Natureza das Coisas, Elba cai dengosa no samba de Bororó (Curare), veste bem a Camisa Amarela de Ary Barroso e reafirma sua vivacidade ao saborear o já mastigado Chiclete com Banana. No tabuleiro da paraibana, tem também Doce de Coco - o choro de Jacob do Bandolim letrado por Hermínio Bello de Carvalho - e blues, Miss Celie's Blues, tema herdado do show Popular Brasileira (1989).
Na sequência, ainda surpreendente, Elba tenta esboçar paralelo entre as obras de Chico Buarque e Cole Porter antes de emparelhar Todo o Sentimento - num arranjo inspirado que abre espaço para intervenções do violão de Arcanjo e do acordeom de Cezinha - e Ev'ry Time We Say Goodbye, que, na voz curtida da intérprete, quase vira uma daquelas toadas melancólicas de Dominguinhos. De quem, aliás, Elba revive Retrato da Vida, bissexta parceria do sanfoneiro com Djavan. É um número de voz-e-acordeom, assim como Dia Branco é o momento voz-e-violão. Em forma vocal, sem precisar baixar os tons, a atriz que virou cantora revive ainda cenas de sua história teatral com Chico Buarque. O Meu Amor, Palavra de Mulher e Folhetim formam o que Elba chama em cena de "trilogia de Chico". Novidade na voz da artista, a abolerada Folhetim é pretexto para que a intérprete desça do palco e mexa com os homens da platéia. No fim, Elba ainda tira um coelho do Cartola e entoa O Mundo É um Moinho para deleite da platéia carioca. Menos perfurante do que na estreia fonográfica da artista, há 30 anos, o canto torto de Elba somente cresceu com o tempo. A ponto de hoje não precisar de produções retumbantes como as dos (ótimos) shows do passado para segurar a atenção da platéia...
Créditos: Notas Musicais/ Foto: Mauro Ferreira
Um comentário:
Jorginho, parabéns pela iniciativa de fazer o blog e melhorá-lo sempre. Elba merece. Grande abraço! Rafael Martins (Fortaleza).
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