segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Elba Ramalho, a dona do forró

Elba Ramalho nem sempre foi forrozeira. Nascida em Conceição do Piancó (PB), criada entre baiões e xotes de Luiz Gonzaga e cocos de Jackson do Pandeiro, se encantou com o rock ao iniciar sua trajetória musical, como baterista do grupo feminino As Brasas, à época da Jovem Guarda. Só em meados da década de 1970, ao se mudar para o Rio de Janeiro, na companhia do Quinteto Violado, para participar do show A feira, a cantora acabou tornando-se “a voz do Nordeste”.

O grande público descobriu sua voz agreste e forte e seu canto rascante quando tomou parte da primeira montagem da Ópera do malandro. No musical, criado por Chico Buarque, o personagem de Elba contracenava com o vivido por Marieta Severo. As duas dividiam a interpretação da canção O meu amor. Favorecida pela repercussão do espetáculo, ela estreou em disco com o Ave de prata, lançado pela CBS. A mesma gravadora faria depois outros dois LPs da paraibana — Capim do vale (1980) e Elba Ramalho (1981).

A cantora será a atração principal do Forro Bodó, a festa do Dia Nacional do Forró, que será comemorada hoje, a partir das 9h, na Esplanada dos Ministérios, juntamente com trios de forró, do sanfoneiro Marcos Farias (filho de Marinês) e banda e do grupo Pé de Cerrado. De acordo com a produção do evento, ela deve subir ao palco — instalado em estacionamento próximo ao Conjunto Cultural da República —, por volta das 19h30.

Embora ritmos nordestinos sempre tenham marcado presença nos trabalhos de Elba, foi a partir do Remexer, LP de 1986, que ela abraçou de vez o forró. Em seu repertório destacam-se sucessos como Banho de Cheiro (Carlos Fernando), Bate coração (Cecéu), Remexer (Luiz Caldas) e Leão do Norte (Lenine e Paulo César Pinheiro).

Sua imagem como “musa do forró” ficou ainda mais fortalecida a partir da gravação dos CDs Canta Luiz (2002), em homenagem a Luiz Gonzaga; e Baião de dois (2005), no qual celebrou a amizade com Dominguinhos, com quem gravou 11 clássicos de autoria do sanfoneiro pernambucano. Em Balaio de amor, lançado este ano, com a assessoria do acordeonista César Silveira, o Cezinha, Elba revela para o país jovens compositores do gênero — originários de Pernambuco.


FORRO BODÓ
Festa comemorativa do Dia Nacional do Forró com shows de trios, do sanfoneiro Marcos Farias e banda, do grupo Pé de Cerrado e da cantora Elba Ramalho e banda, hoje, a partir das 9h, na Esplanada dos Ministérios, com palco instalado no estacionamento próximo ao Conjunto Cultural da República. Entrada franca. Classificação indicativa livre.

Ponto a ponto - Elba Ramalho
Ritmos nordestinos
“Na companhia do Quinteto Violado, durante a turnê do espetáculo A feira, comecei a cantar baião, xote, coco, mas ao me fixar no Rio meu repertório tornou-se bem variado. Isso pode ser observado em meus três primeiros discos. A partir do quarto, o Alegria o foco sobre ritmos nordestinos aumentou. Passei a gravar bastante Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Dominguinhos, Cecéu. Gradualmente, e com grande prazer para mim, o Nordeste passou a estar mais presente em meu trabalho”.

Os heróis
“Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro inicialmente, Dominguinhos depois foram vistos por mim como heróis. Em 2002, fiz um disco inteiramente voltado para a obra de Seu Luiz, que resultou num dos meus trabalhos mais bem avaliados pela crítica. Em 2005, tendo Dominguinhos ao meu lado, revisitei a obra dele no CD Baião de dois, que me trouxe muita alegria”.

Novíssima geração
“No meu álbum mais recente, o Balaio de amor, com o Cezinha ao meu lado e me ajudando na pesquisa, descobri em Pernambuco novos forrozeiros. São compositores da novíssima geração, já conhecidos na região, mas que cuidei de apresentar ao país. Sem desrespeitar a tradição, eles propõem linguagem contemporânea para o forró, que continua sendo um ritmo autenticamente nordestino. No meu próximo disco, vou gravar mais três ou quatro nomes, entre os novos criadores do forró”.

Referência cultural
“O forró faz parte da minha vida desde sempre. Desde a tenra infância, ouvia muito em casa Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Marinês, que tornou-se referência cultural para mim. No começo da adolescência, descobri Beatles e o pessoal da MPB. No período do São João, porém, o gosto pelo forró reacendia, pois era parte importante do cardápio da festa”.

Forró eletrônico
“Todo mundo tem livre arbítrio para escolher o que ouvir. Não falta quem goste das bandas do chamado forró eletrônico, que não são da minha preferência. O pior é que alguns desses grupos têm partido para músicas apelativas, com letras de duplo sentido. Não gosto, mas respeito”.

Dia do forró
“A ideia de comemorar o Dia Nacional do Forró, na data de nascimento de Seu Luiz Gonzaga, é brilhante. Ninguém merece mais esta homenagem do que ele. Foi quem fez o Brasil voltar as vistas e os ouvidos para os ritmos nordestinos ainda na década de 1940, quando migrou para o Rio de Janeiro. O forró não era um ritmo, como baião, xote, xaxado e coco. Seu Luiz foi quem o institucionalizou”.

Fonte: Correio Braziliense
Gabriel Lima para o Leoa do Nordeste

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