quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Coração Brasileiro


A Alba de Elba é Bela
Nelson Motta
Rio, outono de 1983


É um É, é um Éle,
é um Bê, é um A,
É um Bê, é um É,
é um Lê, é um Á
(do cantador de feira e falso cego
Nelsinho da Mata Clara num repente)

Elba Ramalho, nordeste elétrico eclético e poético
na voz rascante e agreste
que cresce e que se incendeia
ao sabor dos frevos, xotes
e que se adoça em açude
nas cantigas e canções.

Elba bela, ela é alba e bole
quando canta e quando dança
iluminada pelo som
nordestino, tropical,
brasileiro sem fronteira
sertão internacional.

Atriz que canta e que dança
cantora que fala e diz
Ela é festa nordestina
em sertaneja explosão
invadindo as cidades
dançando com o corpo dourado
alegre, arisco, ágil
entre sanfonas, zabumbas,
nas guitarras em forró.

Já foi longe e mais irá
nas asas de seu cantar
na procura da beleza
dura, sêca e luminosa
que aprendeu a amar
pelos caminhos da infância
pelas estradas de sol
nas perdidas inocências
que revela a plena voz.

Elba trágica e dramática
consumida em emoção
cantando por tantos, tanto
que comove a tantos, sempre,
na voz que afinada afirma
a grandeza da paixão
que os artistas populares
abrigam no coração.

Ela ágil e nervosa, tinhosa,
moderna contradição
que se entrega e complementa
no cantar onde saúda
o novo e a tradição.

Do sertão da Parahyba
ao afeto do Brazyl
Ela sempre foi só ela,
atrevida e gentil
enérgica e destemida

Cantando dores e festas
mais ricas de tão modestas,
de seu povo, de seu tempo,
como se fôssem só dela
o que é de tantos, de nós.

A voz que afaga é a mesma que apedreja.



Coração Brasileiro
Bráulio Tavares
Outubro de 1983

Conta uma lenda que um eremita habitava uma caverna, na encosta de uma montanha altíssima. Um desmoronamento de neve isolou essa montanha por mais de duzentos anos, até que um dia um grupo de homens conseguiu subir até o local onde ele tinha vivido.Entraram na caverna e descobriram o seu corpo, coberto de gelo, e perfeitamente conservado. Quando retiravam o gelo, para sepultá-lo, um dos homens tocou no seu peito. E a lenda conclui: "Estava morto há mais de um século; mas seu coração ainda batia".
Este coração é o país mais independente que guardamos em nós; o único inconquistável; aquele para onde a gente se encaminha quando precisa das grandes e simples respostas. Ele nos ensina como enfrentar o jogo da vida: com a astúcia de quem caça, e a paciência de quem pesca.

Por causa dele, nunca perdemos a alegria e por isso nunca vamos perder a coragem; ele não deixa. É um coração cheio de passarinhos e de armadilhas, cheio de rios, sertões e minas soterradas; ele anda descalço, fundou vilas sonolentas, metrópoles confusas e maravilhosas. Ele é vasto, e imensamente aberto para o mar.

É aqui dentro dele que toca uma música, viva e quente feito o toque de uma mão. Uma música que não pára: ela salta, e brinca, e parece fugir de nós, e pousa em nosso ombro, e vira cambalhotas, e nos pede emprestado o nosso corpo quando está com vontade de dançar. Batuque, maracatu, caboclinho, afoxé, samba, ciranda, baião, frevo; e tudo aquilo que descobrimos hoje, nesta vontade de saber o mundo.

Por isso cantamos: porque os deuses de nossa raça são os últimos deuses que ainda sabem dançar. Por isso estamos aqui: queremos alegria, queremos alegrar.



Coração Brasileiro [show]
Banho de cheiro
Carlos Fernando
Toque de amor
Zé Rocha/João Lyra
Banquete de signos
José Ramalho
Essa alegria
Lula Queiroga
Batida de trem
Vicente Barreto & Carlos Pita
Quero ir a Cuba
Caetano Veloso
Aquarela nordestina
Rosil Cavalcante
Canção de despedida
Geraldo Azevedo & Geraldo Vandré
Desafio de violeiros repentistas
Bráulio Tavares
Coração brasileiro
Celso Adolfo
A volta dos trovões
Bráulio Tavares & Fuba
Se eu fosse teu patrão
Chico Buarque de Holanda
Tango do cafetão
Brecht-Weil
O meu amor
Chico Buarque de Holanda
Forró na gafieira
Rosil Cavalcante
Som da sonfana
J. do Pandeiro & K.K. do Asfalto
Bate coração
Ceceu
Roendo unha
Luiz Ramalho & Luiz Gonzaga
Toque de fole
Bastinho Calixto & Ana Paula
Caldeirão dos mitos
Bráulio Tavares



Banda Rojão
Paulo Williams - Trombone & partner
Marcelo Neves - Sax/flauta & vocal
João Carlos - Trumpete & vocal
Luciano Alves - Teclados & vocal
Zepa - Guitarra/viola & vocal
Severo - Acordeon
Santana - Contra-baixo
Rubinho - Bateria
Cidinho - Percussão
Neyla e Betina - Vocal


Equipe Técnica
Direção - Aloysio Legey & Walter Lacet
Roteiro e textos - Bráulio Tavares
Criação - Elba Ramalho & Bráulio Tavares
Cenografia e programação visual - Mauro Monteiro
Adereços - Fernando Pinto
Assistente - Adalmir Braga
Iluminação - Auro Soderi
Assistente - Antonio Antunes
Figurinos Elba - Jorge Luiz
Figurinos Músicos (Criação) - Fernando Pinto
Figurinos Músicos (Execução) - Jorge & Tania
Direção musical e arranjos - Luciano Alves, José Paulo de Souza (Zepa),Marcelo Neves, Severo & Luiz Avelar
Arranjo "Quero ir a Cuba" - Banda Rojão & Zé Américo
Direção de produção - Carlos Araújo
Coordenação de produção - Cléa Rodrigues & Acauã Produtora Ltda.
Produção Executiva - Fatima Regina Magna, Lais Martins, Ana de Fátima
Divulgação - Ivone Kassu, Gilda Mattoso & Cristina Ferreira
Supervisão Geral - L & L Produções
Maquiagem - Guilherme Pereira
Contra-Regra - Amilcar Cruz (Pimpôlho)
Assessoria (ELBA) - Amim & Gilda Valentim
Acupuntura - Masasi
Fotos - Lucia Zaremba & Lívio Campos (Photogaleria)
Visual Fachada do Canecão - Mauro Monteiro
Auxiliar de Divulgação (Cartazes) - Paulo Varella
Artista Exclusivo - Ariola
Criação do Programa - Carlão & Elba
Staff do Canecão Produção - Léo Perico
Direção de Cena - José Amandio
Maquinária - Almir Silva, Roberto L. de Souza & Carlos Alberto P. da Conceição
Camarins - Clara Santos, Edméia Barbosa & Carmen S. Freitas
Som - Gabriel Neto, Roberto Nascimento & Carlos Alberto
Iluminação - Roberto Moreira, Ricardo Moreira, José do Egito & Jubatão J. Cardoso

Agradecimentos
Jaguar (Rádio Cidade), J. C. Mello, Bruno Esperança, Cristina Ferreira, Gilda Mattoso, Mazola, Geraldo Rodolpho

Este show é dedicado ao nosso pai artístico e inesquecível amigo: Adail Lessa

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