segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Elba como todos gostam

Em CD e DVD gravados no Marco Zero, em Recife, a cantora paraibana mostra da forma que mais lhe realiza, que é em contato com o público

Não era um show comum. Não era mais um show. Era um show de comemoração, de celebração para os 30 anos de carreira de Elba Ramalho, cantora paraibana que se firmou entre as grandes vozes da música brasileira. Na verdade na verdade, são mesmo 31 anos de estrada se levado em conta que o primeiro disco de Elba, “Ave de Prata”, saiu em 1979, pelo selo Epic-CBS, hoje Sony Music. Os fãs devem estar eufóricos, porque a gravadora Biscoito Fino acaba de colocar no mercado o registro desse show histórico “Elba Marco Zero” em CD e DVD.

Obviamente que obras como esta não serão objeto de atenção apenas dos fãs de carteirinha da “cantriz” paraibana, mas de todos que gostam de música regional (no sentido mais amplo da palavra) e da atuação frenética da protagonista. Elba ama o palco. Parece fazer amor com seu público, criando uma catarse rara hoje no lastro da MPB. A artista sabe que o público é co-responsável pelo seu sucesso, e afirma que “é ele que faz com que a gente aconteça”.

Para quem acompanha a carreira de Elba Ramalho desde o início como eu; impressiona a velocidade com que ela evoluiu. De “atriz que canta” a cantora que domina voz e palco, foram poucos anos. De discos como “Ave de Prata” a “Leão do Norte” parece que estamos tratando de duas artistas separadamente. Isso não é nenhum demérito para ela, pelo contrário.

Quando se mudou para o Rio de Janeiro em meados da década de 1970 o desejo de Elba Ramalho era o de ser atriz. E embora tivesse contato com a música desde os tempos em que morou em João Pessoa (ela é natural de Conceição, no Sertão da Paraíba) foi somente no contato com Marieta Severo e conseqüentemente com Chico Buarque (então marido de Marieta) que ela foi encorajada a estrear com “Ave de Prata” e chamar a atenção do público com “Não Sonho Mais”, canção de Chico Buarque que faz parte da trilha da “Ópera do Malandro”.

O show do “Marco Zero” tem conceitos de várias Elbas. Mas seria improvável que, na terra do frevo, ela não festejasse seus 30 anos de estrada sem que o ritmo frenético do carnaval não predominasse. Mesmo assim ela encontrou espaço para Ednardo (“Pavão Mysteriozo”), Lenine (“Leão do Norte”), Caetano Veloso (“Queixa”), Vital Farias (“Veja – Margarida”), Zé Ramalho (“Chão de Giz”) e Accioly Neto (“Espumas ao vento”) entre outros.

“O palco é aonde me realizo”, diz Elba. E isso é nítido. É mais ou menos como a distancia entre ouvirmos Janis Joplin em disco e ver registros de seus shows. Ambas se doam por completo. Cantam como cigarras, que explodem. É também marcante o instante em que Elba Ramalho canta “De Volta pro Aconchego” (Dominguinhos e Nando Cordel) e quando ousa e faz um mix de sucessos de dois de seus referenciais, que são Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro.

“Elba Marco Zero” realmente festeja todas as fases da carreira dessa grande e brava artista. Como poucos artistas da sua geração, Elba Ramalho soube duelar com a crítica sem demonizá-la. “As críticas me faziam mal sim, era natural, mas elas também me levaram a querer provar que eu chegaria lá, e cheguei”. Durante uma entrevista que me concedeu há alguns anos Elba confessou que chegou a ficar muito magoada com um texto que escrevi e que tinha o título de “a gralha canta”, mas que isso a motivou a “dar o troco”.

Eu me curvei. Elba cresceu. Fez discos brilhantes como “Qual o Assunto que Mais lhe Interessa” (obra fundamental a qualquer discoteca que se preze) e hoje ninguém mais a questiona. Soube manter-se apaixonadamente enraizada ao Nordeste, lançando recentemente o CD “Balaio de Amor”, todo dedicado a música regional de Maciel Melo, Petrúcio Amorim, Xico Bizerra e outros autores seguidores de Gonzagão. Mesmo avesso a discos gravados ao vivo, mais uma vez rendo-me a capacidade fenomenal que Elba Ramalho tem de ser grandiosa.

Créditos: Luiz Berto

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