segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Um abraço de Elba

As mudanças dos últimos 30 anos são representativas na figura de Elba Ramalho. Estão expressas nas tecnologias de gravação, no trato das gravadoras com os artistas e até em suas madeixas, hoje mais claras e menos volumosas. O que não muda é o apelo junto ao público, soma do balanço de suas canções e da força da sua figura em cima dos palcos. Apelo inegável que chega a São Paulo com shows de lançamento do CD e DVD Marco Zero.

"Faz dois anos que estou comemorando. Primeiro foi com meu disco de inéditas, de jovens compositores. Agora, trago de volta grandes sucessos. Consegui até trazer Geraldo Azevedo para cantarmos Canta Coração", conta Elba. "Esse trabalho foi um abraço em mim mesmo e nos meus fãs pela cumplicidade que tivemos todos esses anos."

O trabalho foi elaborado em 10 dias. A ocasião de unir a efeméride ao aniversário de Recife, local onde foi realizado o show, foi um fugás vislumbre que a cantora não deixou passar. "Fiz 13 shows no carnaval passado, estava cansada, mas precisava aproveitar. Reuni todo mundo e passamos os dez dias ensaiando. Escolhi o Recife porque é um pólo cultural muito forte, marcado pelas tradições e experimentações."

Anunciação, Leão do Norte, Banquete dos Signos, Chão de Giz e De Volta pro Aconchego são alguns dos hits que compuseram a gravação.

APRENDIZADO - Eba conta que o que mais lhe faz feliz é olhar para trás e ver que a coerência é predominante nas suas escolhas. "Existem coisas descartáveis, mas fico feliz por ter sobrevivido a tudo isso até hoje. Fazer o que gosto me interessa muito mais do que estar na capa de revista, no topo. O mundo de hoje gera desinteresse pelo artístico. Dissecar seu trabalho, falar de arte e colocar seu pensamento para semear coisas boas está cada dia mais difícil."

Das mudanças que as novas tecnologias trouxeram, a facilidade de acesso a novos artistas é o fator positivo de uma equação que ainda deixa lacunas. "Sinto falta das lojas de disco, do quanto representava a capa, o encarte do trabalho. Antes eu lançava um trabalho com 100 mil cópias, que chegavam a vender 200 mil, 300 mil. Hoje, quem vende 30 mil fica feliz."

OS PRÓXIMOS 30 - "Ainda tem muita coisa que sonho fazer. Trabalho fazendo um mapeamento da alma para ver onde está vazio, artisticamente falando. E é esse lado que vou preencher. Posso me lançar cantando Chico, Gil, fazendo uma leitura acústica do meu repertório romântico."

Trabalho pronto já existe: "É disco de inéditas, está no computador. É um álbum de forró bem pancada, vem até com composições minhas. As pessoas vão ouvir e dizer: ‘essa é a Elba dos velhos tempos''."

Uma das mudanças que não só atingiu a cantora e seu trabalho foi a alteração da visão que se tem do Nordeste.

"No início, tínhamos dificuldade de estabelecer vínculo entre as culturas do Nordeste e do Sul. Mas a minha geração quebrou alguns muros e preconceitos. Antigamente as pessoas não vinham para cá, iam passar as férias nas Bahamas. Imaginavam que as ruas eram tomadas por cangaceiros. Colaboramos para a ratificação de nossa cultura e tradição. Por isso que estou no batente há 30 anos e já cantei no mundo todo. O forró é a tradução da nossa alegria", finaliza a cantora.

SERVIÇO:
Show Elba Ramalho
No Sesc Vila Mariana - Rua Pelotas, 141, São Paulo.
Tel.: 5080-3000. 5ª, 6ª e sáb., às 21h e dom., às 18h.
Ingr.: R$ 10 a R$ 40

Fonte: Diário do Grande ABC

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