terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Uma semana, dois encontros com Elba

Na última semana tive a chance de assistir a dois shows diferentes de Elba.

O primeiro deles foi no domingo, dia 06 de fevereiro. Era o último show da muitíssimo bem sucedida temporada paulistana de lançamento do cd/DVD Marco Zero ao Vivo. Elba lotou o Sesc Vila Mariana durante quatro noites, com ingressos já esgotados uma semana antes das apresentações. Os shows de Elba em teatros são sempre deslumbrantes e esse não foi diferente; a cantora deixou seu público encantado e extasiado durante as exatas duas horas e quarenta minutos (!!!!!!) de duração da apresentação. Acompanhada de acordeon, teclados, baixo, violões/guitarras, bateria e percussão, Elba entrou no palco linda, em um vestido branco de penas, numa versão arrebatadora de Lamento Sertanejo, canção esta que sempre que ela decide interpretar, o faz de forma cada vez mais pungente, emocionada e precisa, mesclando as tintas dos lamentos dos retirantes com a alegria que estas mesmas pessoas também trazem em suas veias... A segunda canção foi Anunciação, com uma pegada bastante forte e vigorosa da banda e da cantora, que nesta apresentação dançou como há muito eu não via! Força também é a palavra mais precisa para definir a perfomance de Elba e seus músicos em Banquete de Signos; o novo arranjo, feito para o DVD, realmente funciona muito bem e impressiona! Haja talento em cena! Da cantora e da banda! Momento arrebatador, assim como a swingada versão de Morena de Angola, outro grande momento do espetáculo.

Por estar lançando um DVD comemorativo dos 30 anos de carreira, o repertório do show foi escolhido de forma a fazer um passeio por diversos momentos da trajetória de Elba. Além das já citadas, estiveram presentes Gostoso Demais (momento em que ela aproveitou para agradecer o carinho do público durante todos esses anos, para falar da importância de Dominguinhos em sua carreira e para pedir que mandássemos boas vibrações para o músico, que acabou de passar por um problema delicado de saúde); a sempre oportuna e sincera homenagem a obra de Accioly Neto, com Espumas ao Vento, Lembrança de um Beijo e A Natureza das Coisas (antes de apresentar esta canção, falou do quanto ficou feliz em ter conquistado, com um disco totalmente independente como Qual o Assunto que Mais Lhe Interessa?, um prêmio tão importante como o Grammy Latino. Disse que, para ela, isso foi a confirmação de que é possível trabalhar sem a pressão das multinacionais e ainda assim ter a oportunidade de estar entre os indicados – e os vencedores – de prêmios musicais tão importantes); a deslumbrante Pavão Mysteriozo (detalhe curioso é que Elba antes de cantar essa canção perguntou aflita para o maestro Zé Américo Bastos: será que eu consigo? E ele disse sorrindo: consegue... É que desde a véspera, ela estava apresentando um pequeno problema vocal... Se havia mesmo algum problema, ela tirou de letra completamente...Quisera eu cantar tão bem uma canção tão difícil... Só Elba mesmo! Bacana também que ao falar de Ednardo, fez questão de citar todos os nordestino que vieram para o sudeste nos anos 1970 tentar um espaço na música e, dentre estes, destacou Amelinha, para a qual pediu uma salva de palmas da platéia e disse que ela precisa voltar a cena urgentemente!). No repertório também figuraram diversos forrós, para o deleite do público que vai a loucura com a forrozeira Elba... Desta seara mostrou Fuxico, Bate Coração, Baião, Asa Branca, Na Base da Chinela, Eu Só Quero um Xodó, Qui Nem Jiló, entre outras. Apresentou ainda De Volta pro Aconchego e Chão de Giz, dois de suas maiores sucessos em todos estes anos de estrada. Também no set-list, Veja (Margarida) (canção composta em São Paulo, por Vital Farias, em meados da década de 70, quando ele e Elba integravam o grupo de teatro Chegança de Luiz Mendonça). Teve ainda o sempre belo set Chico Buarque de Hollanda, com O Meu Amor (precedida da divertida história da seleção de Elba para o elenco da Ópera do Malandro e do primeiro encontro entre ela e Chico no teatro), Palavra de Mulher (precedida por revelações hilárias de Elba sobre os bastidores do filme Ópera do Malandro, dos ataques de estrelismo do diretor, que assustava todo o elenco com seus gritos e brigava muito com a figurinista porque ela deixava Elba muito bonita e ele a queria feia... Disse ainda que ela está no escuro em todas as suas cenas; que não acenderam as luzes dela até hoje no filme, já que não podia aparecer mais que Cláudia Ohana que era mulher do diretor... Disse que a ênfase dada a personagem de Cláudia era tanta, as cenas eram tão fechadas na atriz, que o elenco criou o slogan “Fechadinha na Claudinha”... Disse que hoje Ruy Guerra, o diretor, é um grande amigo, mas que na época foi muito difícil trabalhar com ele... O que dava força para ela não desistir era o bom-humor e a irreverência de Ney Latorraca, que contagiava a todos) e Folhetim (com Elba descendo até a platéia e levando todos ao delírio com sua presença cênica incomparável e sua simpatia).

Depois de mais de duas horas de show, perguntou se o público estava cansado... É claro que a resposta foi não, e ela então anunciou que havia uma cantora na platéia, com a qual queria muito dividir o palco... Era Mariana Aydar que subiu ao palco e após reverenciar Elba como uma de suas referências artísticas e musicais, cantou com ela Onde Está Você (canção que Elba disse ter ouvido primeiramente na voz de Mariana, sem nem saber que era ela. Depois de um tempo, a ouviu com Dominguinhos e esqueceu de perguntar o nome e o autor... Tempos depois, em Trancoso, ouviu uma voz cantando tal canção e percebeu que era Mariana). Depois, Mariana cantou sozinha Feira de Mangaio, enquanto Elba se juntou aos instrumentistas de sua banda e arrasou no triângulo. Depois da canja da jovem cantora, nossa Leoa do Nordeste partiu para festa e encerrou a bela noite de festa e cultura nordestina com Banho de Cheiro, Festa do Interior e Frevo Mulher. Antes de sair do palco, um belíssimo agradecimento a Virgem Maria com uma versão linda, quase a capela, do clássico Nossa Senhora de Roberto Carlos. Mais um show memorável dentre tantos outros nestes trinta e tantos anos de palco!

Preciso destacar ainda que, a cada show que assisto, fico mais encantado com a forma como Elba trata seu público... Seu carinho e atenção para com as pessoas que foram até o teatro vê-la chegam a ser comoventes... Neste show em especial, por exemplo, havia, na primeira fila, uma moça com um bebê no colo; uma garotinha de alguns meses de vida. Na segunda música Elba viu a criança e se derreteu toda, dizendo que era linda e que estava com pena de sujeitar aquela criança a uma “porrada sonora” daquela... Mas a criança nem ligou... Ficou quietinha o show todo e quando todos se levantaram para dançar, no final do espetáculo, a mãe a pegou no colo e também começou a dançar perto da beira do palco... Elba não teve dúvidas e foi até lá dar um beijo na bebezinha. Depois, na fila dos autógrafos e fotos, lá estava a mãe e sua bebê para falar com Elba. Quando ela as viu disse: estou encantada com este bebê, posso segurar um pouco? E, por alguns instantes, Elba parou de dar autógrafos e ficou ninando e acariciando, em seu colo, aquela bela garotinha, que tão novinha já teve a oportunidade de ganhar um carinho de uma diva da MPB que, de tão humana e tão especial, se torna, a cada dia, mais divina! Ah Elba, se todos fossem iguais a você!!

O segundo show que assisti foi na quinta-feira, dia 10 de fevereiro. Elba veio, mais uma vez, se apresentar em Jundiaí-SP, cidade onde nasci e sempre morei. O show foi em uma casa noturna bastante badalada por aqui, mas que nunca tinha trazido nenhum artista desse porte; o foco da casa é a música eletrônica. Segundo a organização, foram colocados a venda apenas 400 ingressos que, com certeza, pela quantidade de pessoas que estavam presentes no show, foram todos vendidos. O VR CLUB, casa noturna em questão, de fato não tem uma estrutura muito adequada para shows deste tamanho... O palco era minúsculo e improvisado, o teto do ambiente muito baixo, a acústica também não é das melhores... Mas Elba, com sempre, conseguiu tirar isso tudo de letra e brilhar como sempre! A cantora havia prometido em uma entrevista para um jornal local que colocaria todo mundo pra dançar... Mas fez mais do que isso... Incendiou o público extremamente caloroso que não se importou de ficar tão apertado em um local tão quente, numa noite de temperatura altíssima e nem de ficar acordado até tão tarde em plena quinta-feira. Elba fez um show extremamente alto-astral, transformando o templo da música eletrônica num autêntico arrasta-pé nordestino e enfileirando um forró atrás do outro. No repertório, canções como Onde Está Você, Anunciação, Espumas ao Vento, Lembrança de Um Beijo, A Natureza das Coisas, Vida de Viajante, Homem com H, Qui Nem Jiló, Eu Só Quero um Xodó, Na Base da Chinela, Fuxico, Bate Coração, Baião, É Só Você Querer, Aconchego, Chão de Giz, Banho de Cheiro, Frevo Mulher, Xote das Meninas... Atendeu ainda dois pedidos do público: Frisson (que há muito tempo ela não cantava) e Dia Branco e mostrou sua versão para Esqueça, clássico de Roberto Carlos que ela gravou no cd/DVD Emoções Sertanejas. O público cantava todas! Era só Elba apontar o microfone que o coral era tão possante que a estrela, se quisesse, nem precisaria mais cantar... Poderia deixar que o seu embevecido público cantasse para ela ouvir! Mais uma vez Elba estava com um pique surpreendente, dançando muito e rodopiando tanto os cabelos que mais parecia uma garotinha de quinze anos do que uma jovem senhora de quase sessenta! Nossa cantora continua o mesmo furacão da alegria de trinta e tantos anos atrás, só que agora com a voz cada vez mais lapidada e cristalina! O público, que no final ainda foi brindado com uma versão de Nossa Senhora de Roberto Carlos, foi para casa encantado com o brilho, o talento e a beleza (estes foram alguns dos adjetivos que ouvi enquanto estava na fila da saída) dessa estrela de primeira grandeza da MPB!

Só mais uma observação: acho que meu coração está bem forte, porque se não tivesse, com certeza, teria tido um treco neste show. Enquanto cantava Fuxico, Elba percebeu uma certa pessoa na segunda fila, colada no palco, cantando a canção toda (como esta é mais nova, poucos a conheciam). E ela não teve dúvidas: no refrão colocou o microfone na boca dessa pessoa e ficou revezando: ela cantava uma frase e deixava essa pessoa cantar a outra... Advinha quem era essa tal pessoa? Exatamente... Esta pessoa era eu! Nem acredito que cantei com a Elba!!! E no final ainda ganhei um elogio: muito bem! Sempre gostei muito de cantar, canto em diversos corais e sempre brinquei que meu sonho era cantar com a Elba... Nem preciso dizer o quanto este dia foi especial para mim, não é?

Créditos: Gabriel Lima

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