segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Show no Recife celebra musicalidade 'antenada' de Elba Ramalho com raízes definidas


Por George Carvalho

Uma celebração. Com ingressos esgotados desde a última terça-feira (12), o que se viu no Teatro da UFPE na última sexta (15) não pode ser definido como uma simples apresentação. Elba Ramalho estava exuberante, prestes a completar 57 anos de idade neste domingo (17).

O show Raízes e Antenas traz músicas do novo cd, Qual o assunto que mais lhe interessa?, o qual traz uma mistura de ritmos e marca uma nova faze da carreira de Elba, longe das grandes gravadoras. Em um dos melhores trabalhos já realizados por ela – senão o melhor –, a paraibana reafirma a diversidade da sua musicalidade enquanto intérprete, com ritmos que transitam do samba ao frevo, do boi maranhense ao xote.

Na passagem pelo Recife, os interesses do público e da artista convergiam, tanto que a sintonia se estabeleceu logo na primeira música, que também abre o cd: Gaiola da Saudade, de Jam da Silva e Maciel Salú.

Do repertório do novo trabalho, também foram entoados Tempos Quase Modernos (Qual o assunto que mais lhe interessa?), de Roberto Mendes e Capinam; Os Beijos, de Pedro Luís e Ivan Santos; Amplidão, de Chico César; A Natureza das Coisas, do pernambucano Accioly Neto; Conceição dos Coqueiros, de Lula Queiroga, Lulu Oliveira e Alexandre Bicudo; e Noite Severina, também de Lula Queiroga, que estava na platéia e subiu ao palco, a convite de Elba, para cantar com ela essa canção.

“O tom dele é diferente, mas não tem nada não. É vingança da intérprete. Os compositores também costumam maltratar a gente, como Gonzagão em Chora Sanfoninha, Lenine em Leão do Norte e Chico Buarque em Não Sonho Mais”, brincou a cantora.

O público nem percebeu a diferença de tom e aplaudiu bastante esse que foi um dos melhores momentos do show. Grandes sucessos na voz de Elba Ramalho não ficaram de fora: Ai que saudade d’ocê, por exemplo, foi entoado à capela. Banho de Cheiro, De volta pro aconchego, Leão do Norte, Bate Coração, Dia Branco e Chão de Giz foram algumas das antigas canções selecionadas para a apresentação.

À certa altura, o show ganhou um tom mais íntimo. Elba falou da sua trajetória, do início da carreira, de como chegou ao Rio de Janeiro e conheceu Chico Buarque. Do compositor carioca, cantou O meu amor – que cantou quando interpretou o musical A Ópera do Malandro –, Folhetim e Palavra de Mulher, que foi escrita especialmente para ela durante as gravações do filme baseado na Ópera, no qual também atuou.

O amor e a admiração por Pernambuco foram reafirmados através das cirandas e canções de compositores e parceiros do estado: Dominguinhos, Lenine, Accioly Neto e Lula Queiroga. “Sempre que eu canto uma ciranda, eu pergunto se tem um pernambucano na platéia. Até em Macau, eu perguntei em inglês, porque eles não entendem português, e tinha dois pernambucanos na platéia”, contou.

E foi nesse tom de entrega, tanto do público quanto da cantora, que transcorreram as mais de duas horas de show. “Eu sempre digo que vou cantar apenas uma hora e meia, mas quando estou em Pernambuco não consigo. Aqui, o público canta com a gente. Semana passada, em Petrolina, eu fiz um show à beira do Rio São Francisco... Não dá pra controlar”, disse.

No final, bolo, flores e um ‘parabéns a você’. Numa fase profissional que é considerada uma das melhores, Elba Ramalho completa 57 anos de idade e 40 de carreira com uma disposição eletrizante, de uma artista 'antenada' que está sempre se renovando, mas com raízes bem fincadas no propósito de fazer uma boa música.

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