terça-feira, 5 de maio de 2009

Elba Ramalho lança CD Balaio de amor

Cantora revela novos compositores de baião e xote e planeja voltar aos palcos como atriz e gravar disco dedicado a Chico Buarque

São João ainda nem chegou e a rainha das festas juninas do Nordeste manda para as lojas o Balaio de amor para embalar a temporada de quadrilhas. Comemorando 30 anos de carreira fonográfica, desde o inaugural Ave de prata, de 1979, Elba Ramalho, de 57 anos, centra a voz amadurecida em baiões, forrós e xotes de temática romântica, revelando ao país novos autores dos gêneros consagrados pelo mestre Lua (Luiz Gonzaga), a quem dedicou Elba canta Luiz, de 2003.

“Colocar Lua como ponto de partida e tentar mensurar a questão da evolução desses gêneros é delicado, porque Luiz Gonzaga é o máximo. Mas eu diria que ele é tão bom e tão grande que as sementes plantadas por ele deram árvores frondosas”, avalia. A cantora admite que o rei do baião está indubitavelmente presente em tudo que esteja relacionado a acordeom , Nordeste, xote e baião. O que Elba traz no novo disco, como ela mesma faz questão de dizer, são canções de autores que marcam a atual geração nordestina, todos devidamente influenciados por Luiz Gonzaga.

“A linguagem, porém, é contemporânea, sem se voltar para aquilo que Lua tanto tinha em seu trabalho: muito caboclo, sertanejo, retirante, fome, seca”, compara. “Os novos compositores falam do amor em suas variantes, que são inúmeras, tudo devidamente traduzido em melodias muito bonitas”, elogia o trabalho dos conterrâneos Antonio Barros e Cecéu (Não lhe solto mais), do cearense Xico Bezerra (Se tu quiser e Oferendar, com Flávio Leandro, da qual saiu o título do CD), além dos pernambucanos Flávio Leandro (Fuxico), Petrúcio Amorim e Rogério Rangel (Um baião chamado saudade), Maciel Melo e Anchieta Dali (Bebedouro), Terezinha do Acordeom e Júnior Vieira (Seu aconchego) e Jorge Altinho (Quem é você). Velhos conhecidos da cantora, Accioly Neto e Nando Cordel contribuem com É só você querer, que já integra a trilha da novela Caras & bocas. No dia 30, Elba estreia a turnê de lançamento do CD em São João de Caruaru (PE).

Parceria integral

Elba divide a interpretação da faixa com o acordeonista Cezinha, de 24 anos, produtor do disco e atual namorado, que ela chama de “parceiro de todas as horas” no encarte do CD. Dominguinhos, autor de Riso cristalino, com Climério Ferreira, e Ilusão nada mais, com Fausto Nilo, também divide com ela a primeira faixa. A proximidade dos timbres graves de Cezinha e Dominguinhos chega a impressionar à primeira audição. “Cezinha me incentivou bastante a gravar este disco. Como músico jovem, pernambucano, bastante atuante, ele está sempre em contato com os novos compositores”, conta, admitindo que a ideia dela era fazer um trabalho que saudasse a nação nordestina no que ela tem de mais original e essencial, que são os ritmos. “O disco também ratificou a minha importância como intérprete neste momento, ao abraçar estes compositores que, de certa maneira, sem querer ser pretensiosa, ansiavam que eu tocasse na obra deles”, acrescenta.

Sem querer colocar a Paraíba para trás, Elba Ramalho diz que não tem como negar o “caldeirão efervescente” em que se transformou o vizinho Pernambuco. “Onde você mexe lá, encontra grandes sanfoneiros, grandes mestres da zabumba e do triângulo”, elogia a cantora, envolvida com Pernambuco desde o São João até o carnaval. Não por acaso, ela acaba de receber convite para gravar, em agosto, um disco ao vivo com a Spok Frevo Orquestra, no Marco Zero do Recife. “Quando for gravar o carnaval pernambucano, tenho certeza de que eu vou encontrar muito subsídio para elaborar um trabalho de riqueza, que traduz com muita força o nosso sentimento, cultura e costumes”, antecipa. À vontade na interpretação do novo repertório, ela lembra que, por incrível que pareça, a Elba de 2009 não é a Elba de 2008. “Sou uma pessoa que busca bastante o aprimoramento técnico do meu canto”, revela.

“Se fosse cantar estas músicas agora, que estou maturando-as nos shows, elas já viriam com outra força, com outro poder de interpretação”, explica. Dona de voz privilegiada, com agudos, graves e médios devidamente explorados, Elba diz que no momento está passando da voz de peito para a voz de cabeça com muita naturalidade e facilidade. “A música ainda é muito misteriosa para mim, mas é deliciosa de fazer”, acrescenta. “O meu instrumento primeiro foi a bateria, então eu tenho suíngue para cantar”, justifica. “Não é fácil chegar e cantar um forró como Não lhe solto mais, pela ligeireza das notas e nuances da melodia. Parece fácil, mas já vi muito cantor grande chegar e ter dificuldade, principalmente de afinação. Para mim é mais fácil porque eu canto isso desde sempre e estou amadurecida”, afirma Elba Ramalho.

Nordeste universal

Muito antes de o presidente Lula chegar ao poder, os muros do preconceito contra o nordestino já haviam caído, na opinião de Elba Ramalho. “O forró universitário já havia se instalado nos grandes centros, o mangue beat já era o movimento mais revolucionário da MTV, assim como eu, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Zé Ramalho e Lenine já estávamos com a linguagem devidamente estabelecida na mídia”, recorda ela. Segundo a cantora, a nova visão que as pessoas passaram a ter do Nordeste contribuiu para tirar do gueto ritmos como forró, xote e baião, que hoje frequentam espaços de luxo nas grandes cidades.

“Antes, era como se o Nordeste fosse cercado somente de cangaceiros e cobras; seca e miséria. Houve muito ranço por causa disto”, destaca Elba. “Acho que o próprio público do Sul, em vez de viajar sempre para as Bahamas e o Caribe, passou a buscar o Nordeste. Quando chegou lá, encontrou praias lindas, povo gentil e amoroso e uma cultura alegre e rica. Aí disseram: ‘Opa, não preciso de ter gibão e chapéu de couro para dançar isso. Posso dançar com o meu tênis da Nike”, conclui a intérprete, ela mesma vítima do preconceito por meio de rótulos como Madonna do Agreste, Tina Turner do Sertão e Rita Lee da Caatinga, diante da performance teatral e voz rascante. “O preconceito é fruto da ignorância. O bom é ver que as coisas se transformaram”, protesta, sem mágoas.

Só Chico

Um disco com canções de Chico Buarque ou Zé Ramalho está na agenda da cantora. “Sinto que a balança está pesando mais para o Chico, até porque os meus momentos com ele no palco têm sido maravilhosos. Quando canto em meus shows a trilogia O meu amor, Palavra de mulher e Folhetim, a plateia vai ao delírio”. E diz que pode até mesmo retomar a carreira de atriz: “Que Chico Buarque se inspire a fazer uma nova ópera e me convide”, diz a artista, que estreou em 1978 na montagem original de A ópera do malandro.

Créditos: Jailton Magioli

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