segunda-feira, 4 de maio de 2009

Elba Ramalho faz 30 anos de carreira com novo CD e foco em sua raiz nordestina

A estrada do Joá, no Rio de Janeiro, tem algo de paradisíaco. A vista da Pedra da Gávea e a mata fechada trazem paz de espírito e tranquilidade. Nesse cenário, a cantora Elba Ramalho construiu sua moradia. Dentro do terreno, piscina, antessalas e um estúdio onde a cantora gravou seus últimos dois discos são o refúgio para ela, sua irmã Vavá, as três filhas adotadas e o músico e namorado Cezinha do Acordeom.

Elba, 57 anos, inicia as comemorações de 30 anos de carreira lançando o disco Balaio de Amor, que reúne baiões e xotes de compositores pós-Luiz Gonzaga. Na entrevista que a cantora concedeu em sua casa, Elba não só falou do novo disco - lançado desta vez pela Biscoito Fino - como trouxe sua carreira toda para a conversa, desde os tempos em que fazia parte de uma banda apenas de mulheres na Paraíba. “Fui baterista de uma banda de rock em 1968. Foi uma revolução. Todo mundo achava que eu era uma vadia, uma louca. Na verdade, quando fui para o Rio de Janeiro, aos 21 anos, ainda era virgem.”

Desde aquela época, Elba foi levar sabor nordestino para a cidade grande. “O Nordeste me toma como porta-voz. Apresentei muita gente nesse tempo todo. Lenine, Carlinhos Brown, Chico César. Cantei para as elites, consegui furar o bloqueio das classes A e B de São Paulo e Rio. Não foi fácil cantar forró, ser capa da Veja e lotar o Canecão três meses vindo de um lugar como a Paraíba.”

Balaio de Amor, gravado em apenas sete dias em sua casa, revela novamente a Elba do Nordeste. Ela dá crédito pela escolha do repertório a seu namorado, produtor e músico 33 anos mais moço que a cantora. “Essa é uma maneira de mostrar que não existe apenas o forró pornográfico, com bandas que não têm a menor pretensão de manter uma tradição cultural. Eles querem comércio, sacanagem, palavrão. Os compositores que eu escolhi representam a resistência.” Nomes como Accioly Neto, Xico Bizerra e Teresinha do Acordeom estão entre eles. Dominguinhos, parceiro desde seu primeiro disco (Ave de Prata, de 1979), também comparece com duas composições. Sobre o relacionamento com Cezinha, Elba responde descontraída: “Abri muitas portas e inspirei muita gente a se assumir com homens mais novos. Tive relacionamentos com pessoas mais jovens, mas me relacionei com pessoas da minha idade também. Não é uma questão preferencial, é uma questão circunstancial.”

Dos loucos anos 80 e 90, Elba lembra do estouro de Banho de Cheiro, De Volta pro Aconchego e Bate Coração. “Eu era uma novidade. Só existiam Gal, Bethânia e Simone. Elas faziam shows, eu fazia espetáculo.” Já no início dos anos 90, Elba recusou um convite do empresário Ralph Mercado, que cuidava da carreira do Tito Puente, India e Celia Cruz. Mercado queria transformar Elba numa espécie de cantora que Shakira veio a ser anos depois. Ela diz ter recusado a proposta de morar nos Estados Unidos e aprender espanhol, pois não conseguiria ficar longe do seu forró. “As pessoas me chamavam da nova Carmem Miranda, da Tina Turner brasileira. Mas iria ter de me transformar em outra pessoa e acabei fugindo daquilo tudo. Voltei pra casa.”

De más lembranças de uma carreira calcada na alegria, Elba fala da falta de ética dos jornalistas com as pessoas públicas. “ Você vira cordeiro numa roda de chacal.” O caso da revista Veja - que em uma reportagem afirmou que Elba havia falado que tinha sido ‘chipada’ por um extraterrestre - a marcou. “A imprensa me sacaneou. Foi uma armadilha. Mas hoje perdoo tudo. Estou feliz e em paz com a minha vida”.

LANÇAMENTO

Em seu 30º disco, ‘Balaio de Amor’, Elba Ramalho retoma uma das principais características de sua carreira: a aposta em compositores, principalmente da Paraíba e de Pernambuco.

‘Balaio de Amor’
Biscoito Fino
Preço: R$ 26,90


GRANDES ENCONTROS

LUIZ GONZAGA

“Foi o maior nome com quem tive uma parceria. Nasci e cresci ouvindo Gonzaga e de repente estava comendo com ele carne de sol e feijão. Ele me tinha como a cachacinha da vida dele, me tratava como filha. Ainda tive o privilégio de gravar com ele o seu primeiro disco de ouro e platina com ‘Chora Sanfoninha’. Ele sempre me pediu para ser a porta-voz da música nordestina.”

DOMINGUINHOS

Elba conheceu o sanfoneiro um pouco antes de gravar seu primeiro disco, ‘Ave de Prata’ (1979). “Nunca mais nos separamos. Sempre tive a sanfona dele comigo.” No início dos anos 2000, gravou com o parceiro o CD ‘Baião de Dois’. “Vi no programa do Serginho Groisman que ele não gravava nada havia dois anos. Achei um absurdo e fiz esse projeto.”

TEATRO

“A cada ano era um disco e um show maravilhoso. Eu investia na minha carreira e tudo isso vinha do teatro, desde quando fui descoberta na ‘Ópera do Malandro’, em 1978. As pessoas sabiam que iam assistir a um espetáculo, sabiam que não iam assistir a um show de uma cantora em um banquinho. Instiguei muitas cantoras como Daniela Mercury e Ivete Sangalo.”

FORÇAS DO ALÉM

“Sou católica praticante, vou à missa, faço confissão, sou beata de igreja. Rezo o rosário todo o dia e tenho um santuário em casa. Acredito em extraterrestres e que existam vários mundos. Acredito que aconteçam coisas por aí que ainda não são explicadas. Pratico ioga, faço meditação transcendental. Já fumei maconha, era bom, inspirador, mas não quero mais.”

Créditos: Jornal da Tarde

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