quarta-feira, 17 de novembro de 2010

II Parte da matéria: Elba Ramalho festeja os 30 anos do lançamento de seu primeiro disco, o clássico 'Ave de prata'

O último trabalho de Elba ainda com uma gravadora à frente é de cinco anos atrás: “Baião de dois”, da Sony, no qual ela gravou só Dominguinhos. Em seguida, partiu para a produção independente:

— Com “Qual o assunto que mais lhe interessa?”, de 2007, me desvinculei das multinacionais. Eu queria mudar. Eu sabia que o mercado tinha mudado. A multinacional começou a querer receber percentual do meu show. Já não era o programa do Faustão todo domingo que ia fazer a gente vender disco.

Elba tem um estúdio em sua casa, em São Conrado, onde gravou um disco inteirinho antes de fazer este show que está lançando agora em CD e DVD, com distribuição da Biscoito Fino. Não sabe quando irá lançá-lo:

— Não estou mais muito apegada ao tempo como era na época da gravadora. Meu disco sempre saía em março. Trabalhava em abril e maio. Divulgava uma música no Nordeste e outra no Sul. Esses muros caíram todos.

A fase de ouro de Elba começou três anos depois do lançamento de “Ave de prata”. Foi quando ela transferiu-se para a Ariola e gravou “Alegria”, o primeiro de três discos produzidos por Marco Mazzola. Em “Alegria”, estava o super-hit “Bate coração”, de Cecéu. Elba vendeu 300 mil discos de uma tacada só.

Sucesso no rádio, sucesso nas lojas de disco, Elba passou a surpreender também nos palcos, onde exercia o talento de, como passou a ser chamado na época, cantriz. Era o aprendizado que ela trazia de suas experiências no teatro, principalmente na montagem de “Ópera do malandro”, no Rio de Janeiro.

“Ópera do malandro”? Mas isso foi em 1978. Elba, então, estaria completando 32 anos de carreira.

— Talvez o marco zero tenha sido antes de “Ave de prata” mesmo. Quando Chico me chamou para gravar uma faixa em seu disco de 1978, eu vi que estava virando cantora — ela diz.

No disco de Chico, aquele que ficou conhecido como “o disco da samambaia” por causa da foto da capa, Elba cantava ao lado de Marieta Severo “O meu amor”, a mesma música que as duas intepretavam no duelo do musical “Ópera do malandro”. Na ocasião, Elba parecia vir se encaminhando para uma sólida carreira de atriz, iniciada na companhia Chegança, de Luiz Mendonça, na qual fizera parte do elenco dos espetáculos “Lampião no inferno” e “Viva o cordão encarnado”. Só saiu de lá quando esbarrou com Sergio Britto na praia. O ator era um dos produtores da peça de Chico. “Você não é aquela menina do Mendonça? Aparece lá no teatro para fazer um teste para a ‘Ópera...’”, disse ele. Elba apareceu, dançou um coco e convenceu o diretor Luiz Antônio Martinez Correa.

— Quando vi a Elba, percebi que ela era o tipo certo para o papel — conta, hoje, Sergio Britto. — Ela era boa. E teria sido uma ótima atriz se tivesse investido na carreira.

“Ópera do malandro” foi o ponto alto de uma carreira de atriz que tinha começado quatro anos antes. Opa... Elba está nos palcos, então, desde 1974. Seriam 36 anos de carreira! Ela concorda.

— Pensando bem, meu marco zero foi quando cheguei no Rio de Janeiro — diz ela.

— Eu tinha 20 e poucos anos, era virgem e estava zerando toda a minha vida na Paraíba para viver uma grande aventura.

Elba saiu de Campina Grande — ela é de Conceição da Paraíba, mas desde os 11 anos vivia na “cidade grande” — a convite do produtor baiano Roberto Sant’Ana, para fazer a abertura do show “A feira”, com o Quinteto Violado. Ela largou as faculdades de Economia e Sociologia que cursava na Universidade Federal da Paraíba para passar um mês no Rio, durante a temporada no Teatro Casa Grande. Mas ela sabia que não voltaria mais. Tanto que pôs na mala “alguns discos e alguns livros”:

— Eu vim para ficar.

Se pensar bem, talvez seu percurso tenha começado em 1968, quando tocava bateria no conjunto feminino As Brasas, ainda em Campina Grande, o que lhe daria 42 anos de carreira. Ou em 1966, quando cantava no coral da Fundação Artística e Cultural Manoel Bandeira e Cecília Meireles. Seriam 44 anos, então. É melhor parar de fazer contas. Enquanto festeja seus supostos 30 anos de carreira, Elba aguarda o melhor momento para lançar o disco que tem pronto no computador, planeja gravar outro só com o repertório de Chico Buarque e mantém uma agitada agenda de shows. A nós, só resta comemorar.

Fonte: O Globo

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