segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Elba Ramalho festeja os 30 anos do lançamento de seu primeiro disco, o clássico 'Ave de prata'

RIO - Elba Ramalho está festejando 30 anos de carreira. Mas há controvérsias. Para justificar a festa, ela considera como marco zero de sua trajetória o lançamento de seu primeiro disco, "Ave de prata". Um LP produzido pela CBS e que já tinha em seu repertório compositores que fariam parte de toda a trajetória da cantora, como Dominguinhos, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo e Jackson do Pandeiro. A questão é que, na verdade, "Ave de prata" chegou às lojas de discos em 1979. Elba, portanto, estaria completando 31 anos de carreira.

Ela nem liga. E, para coroar a comemoração, está lançando um CD e um DVD com a gravação ao vivo do show que fez em Recife, em março deste ano, para celebrar o aniversário da cidade e, por tabela, os tais 30 anos de carreira. Batizou tudo justamente de "Marco zero" e desfiou um repertório de sucessos do qual fazem parte "De volta pro aconchego", de Dominguinhos e Nando Cordel; "Banquete dos signos", de Zé Ramalho; e "Canta coração", de Geraldo Azevedo e Carlos Fernando. Esta última foi o maior sucesso de "Ave de prata" e o primeiro estouro dos muitos estouros de Elba.

- Eu não sabia, de fato, o que era gravar disco - diz, hoje, a cantora. - Meu primeiro disco tem força, tem uma sonoridade interessante, mas eu não estava preparada.

- Ninguém estava preparado para gravar com a nova tecnologia da época - atesta o produtor do LP, Carlos Sion. - Estávamos começando a usar estúdios com 16 canais, podíamos refazer instrumentos em canais diferentes. Poderia ter saído melhor. Mas tudo, na época, poderia ter saído melhor. O disco tem muita energia, não tem maquiagem. É um clássico, um disco para colecionadores.

"Os tempos mudaram. Isso obriga a gente a ser mais criativa. A gente fica mais motivada. Eu sobrevivo de shows"

Entre os pontos altos do disco que o teriam transformado em clássico, Sion lembra o solo de guitarra de Lulu Santos em "Kukukaya", de Cátia de França. Cita ainda o naipe de compositores que não se esperaria encontrar no disco de uma cantora regional, como Novelli e Márcio Borges ("Razão de paz"), David Tygel e Cacaso ("Cartão postal"), Walter Franco ("O dia do criador") e Vinícius Cantuária ("Filho das Índias").

- Tem ainda um dos melhores fonogramas que já produzi: o de "Ave de prata", de Zé Ramalho. É Elba com cordas. Ela está cantando muito. É espetacular. As pessoas implicavam com a forma como Elba ou Fagner cantavam. Diziam que eles tinham voz de taquara rachada. Nós é que tínhamos que aprender a trabalhar com vozes que não eram o padrão comercial da MPB. Trabalhar com o registro médio, diminuir o agudo... Tínhamos que aprender a trabalhar com o diferente. Esse disco mostra isso. E mostra que o cantor vindo do Nordeste não precisava cantar só forró.

"Ave de prata" foi o ponto de partida de uma carreira que levou Elba a cantar no Olympia de Paris, no Blue Note de Nova York, na Brixton Academy de Londres e, claro, no Canecão aqui do Rio mesmo. Foram 30 (ou 31) anos, 30 discos e mais de seis milhões de discos vendidos. Elba é do tempo em que as gravadoras eram poderosas e os artistas vendiam milhões.

- Antigamente, eu já saía com cem mil discos vendidos. Era disco de ouro antes de chegar às lojas. Eu fazia show quase todo dia. E ainda tinha a televisão, com o programa do Chacrinha e o "Globo de Ouro". O "Fantástico" exibia três clipes musicais a cada edição. A gente tinha os veículos de comunicação a nosso favor. A força da internet acabou com o mundo fonográfico - diz Elba.

Ela se lembra de uma lenda desses tempos, o João da Condil. Era um empresário que possuía 80 lojas de disco no Nordeste:

- Só com as compras dele eu já ganhava um disco de ouro. João quebrou. Os tempos mudaram. Isso obriga a gente a ser mais criativa. A gente fica mais motivada. Eu sobrevivo de shows. Existe no mercado corporativo uma lista de dez nomes de artistas que dão certo para animar convenções: Jorge Ben, Ivete Sangalo, Daniel... Eu estou entre esses dez nomes. Eles sabem que, no meu show, o povo da convenção vai se divertir.

Fonte: O Globo

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