segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Luz de Elba ilumina show tenso marcado por apagão e arranjos insípidos

Resenha de show
Título: Marco Zero
Artista: Elba Ramalho (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 8 de janeiro de 2011
Cotação: **1/2


A volta de Elba Ramalho ao palco de uma grande casa carioca transcorreu em clima de tensão. Quando a intérprete cantava Não lhe Solto Mais, forró de Antonio Barros e Cecéu, as luzes da casa Vivo Rio se apagaram. E não seria o primeiro apagão ao longo do show apresentado por Elba na noite de 8 de janeiro para promover os recém-lançados CD e DVD Marco Zero ao Vivo, gravados em megashow no Centro Histórico de Recife (PE). Ao fim do maracatu Que Baque É Esse? (Lenine), um novo apagão reativou a tensão entre público, artista, banda e a direção da casa. Valente, a leoa do Norte cantou a capella a toada De Volta pro Aconchego (Dominguinhos e Nando Cordel) - puxando o coro da plateia - e, com a banda posicionada na beira do palco, improvisou ao violão e no gogó versão radicalmente acústica de Chão de Giz que emocionou o público pela bravura da artista. Na sequência, com a iluminação parcialmente restabelecida, a cantora pulou o bloco de canções de Chico Buarque - O Meu Amor e Folhetim, entre elas - e foi direto para os frevos Banho de Cheiro (Carlos Fernando) e Frevo Mulher (Zé Ramalho) antes de cantar Morena Tropicana (Alceu Valença) em tom mais forrozeiro e de sair de cena ao som de bela e anticlimática Ave Maria. Não houve sequer bis, pois não havia clima.

A luz e a energia de Elba Ramalho iluminaram um show tenso por conta dos apagões. Contudo, verdade seja dita, Marco Zero - como já sinalizou o DVD posto nas lojas pela gravadora Biscoito Fino - é show aquém do padrão cênico e musical da intérprete. Falta luz também nos arranjos, quase todos insípidos. A direção musical de Cezinha do Acordeom quase nunca explora as nuances dos instrumentos da (boa) banda. Ouve-se uma massa sonora que embala de forma quase padronizada xotes (como Fuxico, de Flávio Leandro), toadas (caso de Gostoso Demais, da lavra de Dominguinhos e Nando Cordel), frevos e baiões. A vivacidade de Elba ao reviver sucessos como Bate Coração (Cecéu) dribla o tom insosso dos arranjos, mas não a impressão de que a cantora deveria a recorrer a produtores como Lula Queiroga e Robertinho de Recife - com os quais a cantora fez grandes discos - para retomar o padrão de qualidade de sua obra nos próximos trabalhos. Sem a teatralidade, o conceito e a força musical de shows antológicos como Popular Brasileira (1990), Leão do Norte (1996) e Baioque (1997), todos dirigidos por Jorge Fernando, Marco Zero acaba funcionando como mera retrospectiva dos 30 anos de carreira fonográfica que, a rigor, já são 32. A propósito, sem precisão para datas, Elba afirma equivocadamente em cena que Banquete de Signos (Zé Ramalho) é música de seu primeiro disco, Ave de Prata (1979), quando na realidade a composição foi o destaque de seu segundo álbum, Capim do Vale (1980). Efemérides à parte, a voz ainda está lá, um pouco menos potente, mas ainda vibrante e firme. A bravura da leoa espanta o tom pasteurizado dos arranjos quando Elba canta o caboclinho Leão do Norte (Lenine e Paulo César Pinheiro), o hit popular Espumas ao Vento (Accioly Neto) e o medley que une os xotes Qui Nem Jiló (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) e Eu Só Quero um Xodó (Dominguinhos e Anastácia). Mas já é hora de Elba zerar tudo, procurar um bom produtor musical e fazer grande disco/show à altura de seu histórico. É preciso ser valente também fora de cena para manter a força e o prestígio.

Fonte: Notas Musicais

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