quarta-feira, 21 de março de 2012

Túnel do tempo: Elba Canta Luiz - Parte III

Elba Ramalho canta Luiz Gonzaga em SP

25/07/2002


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O show Elba Canta Luiz, de Elba Ramalho, que chega hoje a São Paulo, vem com o aval das maiores festas de São João nordestinas, onde foi testado e aprovado por verdadeiras multidões de forrozeiros. Também pudera: o espetáculo, baseado no disco homônimo, é uma homenagem ao maior compositor e divulgador do gênero, Luiz Gonzaga, e feito pela cantora que, atualmente, talvez seja a principal intérprete feminina desse tipo de repertório.

O casamento é perfeito. Cantando Gonzagão, Elba brilha pelo suingue, pelo domínio do fraseado musical sertanejo e pela apurada noção que tem do valor que cada palavra, cada sílaba da poética nordestina, deve ganhar nas interpretações.

O álbum Elba Canta Luiz, lançado em março, privilegiou algumas canções menos lembradas do compositor, como as antigas parcerias com Miguel Lima Quer Ir Mais Eu, Xamego da Guiomar e Xamego. O show, por sua vez, incorporou também os seus grandes êxitos, como Assum Preto, Qui Nem Jiló e Asa Branca, que Elba afirma ser o "Hino Nacional nordestino". Também estão no programa algumas músicas que nunca foram cantadas pelo Rei do Baião, mas que, segundo ela, pertencem ao mesmo universo, como os sucessos Banho de Cheiro, Frevo Mulher e Leão do Norte.

Aliás, ´universo´ é uma palavra que se aproxima bastante do significado que Luiz Gonzaga tem para a cantora. "Gonzaga representa toda aquela terra do sertão, simbolizando desde a fome até a força do nordestino. Esse disco e esse show são um reencontro com a minha própria vida na Paraíba, pois eu vivia tudo aquilo que ele cantava", diz Elba.

Sua definição para a música de Gonzagão é singela e verdadeira: "Gonzagão é a delícia da simplicidade". Mas essa simplicidade não é fácil nem vulgar, o que ela deixa claro ao reproduzir o conselho que recebeu de Dominguinhos, quando começaram a pensar nos arranjos: "Não mexa nas harmonias, porque são muito mais difíceis e sofisticadas do que o povo pensa por aí".

Entusiasmada com o show, Elba elogia o projeto visual de Gabriel Villela: "Gabriel procurou enfatizar o meu lado atriz. O figurino que fez para eu usar nos espetáculo dá a idéia de uma cigana, uma retirante, uma rainha de maracatu, uma personagem circense, mas também de um arlequim ou até, conforme disse um espectador, de Nossa Senhora".

Elba também deve oferecer para o público o deleite de ouvir algumas histórias de Gonzagão, com quem conviveu bastante, inclusive recebendo dele o carinhoso apelido de "a minha segunda cachacinha" - Gonzaguinha era a primeira.

Uma dessas histórias que Elba gosta de contar é a do dia do nascimento de seu filho Luan: "Eu estava grávida de 8 meses e, para a minha surpresa, acordei com ele e o Dominguinhos no meu quarto. De alguma forma eu sabia que aquele seria um dia muito especial, o que se reforçava pelo fato de Gonzaga ficar me olhando o tempo todo, com muita ternura. Mais tarde, depois de almoçarmos uma carne-de-sol na casa de minha irmã, ele pegou a sanfona e nós ficamos dançando forró por ali até que, de repente, lá pelas 6 da tarde, minha bolsa estourou e começou aquela correria para acharmos um hospital.

Depois do parto, quando acordei, lá estavam novamente as figuras lindas de Gonzaga e Dominguinhos ao meu lado. Me lembro bem que ele se abaixou, bem perto do meu filho recém-nascido, e cantarolou: ´Cabeça grande é sinal de inteligência/Agradeço à providência ter nascido lá...´".

Fonte: Estadão

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