quarta-feira, 21 de março de 2012

Túnel do tempo: Elba Canta Luiz - Parte IV

Saudosas lembranças

05/05/2002


Elba Ramalho leva material de primeira na turnê que costuma fazer todo ano pelo Nordeste, durante o mês de junho: o repertório do disco Elba Canta Luiz, feito de músicas compostas por Luiz Gonzaga ou tornadas célebres na voz dele.

Desejo antigo
Forró, aliás, é o que não falta no novo disco de Elba Ramalho, produzido por ela mesma em parceria com Dominguinhos. ‘‘O projeto era um desejo antigo, mas uma coisa vai puxando outra e acabou sendo adiado. Mas eu estava comprometida no meu coração, não era nada conceitual. Queria cantar músicas conhecidas de Gonzaga e outras não tão conhecidas, mas que estavam na minha memória’’, conta Elba, que entrou em estúdio com toda concepção do disco na cabeça. Tanto que ele ficou pronto em três dias. ‘‘Nisso sou craque. Acho muito bom, um exercício que vai além do trabalho de intérprete. Por isso, resolvi produzir. Fica mais com minha cara, a gente assume os erros.’’
Por tabela, a cantora homenageou Dominguinhos ao convidá-lo para dividir o disco com ela. ‘‘Ele se somou à minha arte com seu talento. Para mim, é o sanfoneiro capaz de tocar Luiz Gonzaga com mais naturalidade.’’ Tão natural quanto foi esse disco na carreira de Elba. ‘‘Que outra cantora poderia fazer um disco com músicas de Gonzaga? Gal Costa? Marisa Monte? Não que não possam, mas não têm disposição.’’
Embora seja bastante íntima da obra de Luiz Gonzaga, Elba resolveu ouvir todos os discos do mestre antes de escolher o repertório. ‘‘Ouvia cinco CDs por dia. Eu me transportei para o Nordeste, ria mais do que chorava, porque descobria gírias que nem lembrava mais. E pensei: ‘Tô numa encrenca, porque é uma grande obra, que tem valsas, choros, e tenho a limitação do CD’. Mas acredito que ao longo dos anos revisitarei a obra de Gonzaga.’’

Interpretações vigorosas
Apesar de diversificar o repertório sempre que pode, Elba Ramalho traz o forró na veia, demonstra intimidade com o gênero, que defende ardorosamente — ‘‘acho que minimizam a estética da música nordestina, consideram música de segundo escalão. Mas Luiz Gonzaga é tão importante quanto Tom Jobim’’. Portanto, não poderia realmente ser outra cantora a prestar essa homenagem a Gonzagão. Além de exibir seu domínio musical na concepção do disco, Elba interpreta o mestre com propriedade, pondo ‘‘fogo na mistura’’ (como convém a um bom disco de forró), e sabe dosar bem clássicos do repertório de Luiz Gonzaga com curiosidades, como O Xamego da Guiomar, forró que se aproxima do samba e é exemplo das influências do músico ao chegar ao Rio. E o incendiário pot-pourri feito com Calango na Lacraia/Nega Zefa/Coco Xeem, com certeza, vai fazer as festas juninas deste ano ainda mais animadas lá para os lados de cima — dia 2 de junho, Ela começa em Caruaru (PE) sua tradicional excursão junina.

Fonte: Correio Brasiliense

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