
"Esse é o meu papel como intérprete. É muito fácil gravar um discos com hits de Chico, Caetano, Gil", disse Elba, em entrevista na terça-feira passada (28), em sua casa, no Rio. "Meu trabalho entra em lugares onde o deles (os compositores presentes no disco) não entra. É como a Bethânia gravando Roberto Mendes e Jorge Portugal (ambos de sua cidade, Santo Amaro da Purificação, na Bahia)."
Quem trouxe a maior parte das 14 faixas de "Balaio de Amor", o CD comemorativo que está sendo lançado pela gravadora Biscoito Fino, foi o produtor do disco, Cezzinha, acordeonista pernambucano de 24 anos a quem Elba, que já foi acompanhada por Sivuca, Dominguinhos, Oswaldinho e Toninho Ferragutti, considera um mestre no instrumento.
Cezzinha, que trabalha com Elba há um ano e é seu namorado (ela o chama de "parceiro de todas as horas" no texto de apresentação do CD), mostrou-lhe canções como "Fuxico", de Flavio Leandro, "Um Baião Chamado Saudade", de Petrúcio Amorim e Rogério Rangel, "Bebedouro", de Maciel Melo e Anchieta Dali, "Seu Aconchego", de Terezinha do Acordeon e Júnior Vieira, e "Quem É Você", de Jorge de Altinho, todos também de Pernambuco. "Eu vivo essa cultura lá o tempo todo. Estou sempre atualizado", diz o músico.
Dos paraibanos Antonio Barros e Cecéu, foi pinçada "Não Lhe Solto Mais". O cearense Xico Bizerra emplacou duas, "Se Tu Quiser e Oferendar" (com Flávio Leandro), de cujos versos foi tirado o título do disco - "E cá dentro do peito/ Um pobre coração batendo/ Contendo um balaio/ Cheio de amor pra te dar". Alguns compositores já eram conhecidos de Elba, como Accioly Neto, o qual ela havia incluído no último CD, "Qual o Assunto Que Mais Lhe Interessa?"
Nando Cordel, o autor dos grandes sucessos "De Volta Pro Aconchego" e "Gostoso Demais", entrou com "É Só Você Querer" (parte da trilha da novela da TV Globo "Caras & Bocas"), em que Cezzinha contribui não só com o acordeom, mas também com o vozeirão (que lembra o de Dominguinhos); o próprio, por sua vez, amigo já homenageado por Elba em disco, é autor, com Climério Ferreira, de "Riso Cristalino", e também faz participação tocando e cantando. Ele também assina "Ilusão Nada Mais" (parceria com Fausto Nilo).
Apaixonada, ela quis fazer um disco em que "o esteio fosse o amor". Quis também comemorar os 30 anos privilegiando as "coisas" do Nordeste, até porque nunca se afastou delas. "Foi o Nordeste que me fez ser a Elba Ramalho no Sul", justifica. A paraibana que estourou em "A Ópera do Malandro", de Chico Buarque, e conquistou seu espaço graças à voz única e vigorosa e à presença incendiária no palco, hoje se sente em seu melhor momento como cantora - curiosamente, só agora faz aula de canto, aproveitando as do filho mais velho, Luã, de 21 anos (que, no CD, toca guitarra). "Fui
descobrindo várias nuances na minha voz que eu não conhecia. Era muito imatura. Hoje minha voz é mais redonda. Os meus médios e graves estão no topo."
Além dos shows de lançamento de "Balaio de Amor", os planos são muitos: quer fazer um disco com canções de Chico Buarque ou de Zé Ramalho e um DVD com temática junina. Elba sente uma satisfação danada de relembrar o caminho percorrido do interior da Paraíba até aqui. "Pode-se dizer que meu pai talvez tenha um pouquinho de orgulho de mim..."(AE)
Créditos: Cruzeiro do Sul
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