domingo, 25 de outubro de 2009

Trinta anos de uma "ave de prata"

Elba Ramalho sobe ao palco do Music Hall na próxima sexta-feira (30) para lançar "Balaio de Amor"

MILTON LUIZ

Quando lançou "Ave de Prata" (1979), seu primeiro disco, a voz de Elba Ramalho provocou estranhamento. Não foram poucos os que lhe pouparam comentários mordazes. Houve quem dissesse que aquela voz estridente, que abria o álbum com uma versão incendiária de "Canta Coração" (Geraldo Azevedo e Carlos Fernando), não passava de uma "gralha". Mas, como o tempo é senhor da razão (e não há nada mais clichê do que isso), a paraibana de Conceição do Piancó (PB) passou incólume pelas críticas e, 30 anos depois, firmou definitivamente seu nome na música popular brasileira.

Elba, que é um furacão no palco (quem já viu, sabe o quão ela é performática em cena), volta a Belo Horizonte para lançar seu álbum mais recente, "Balaio de Amor", em show único na próxima sexta-feira (30), no Music Hall. Em entrevista para divulgar o novo "rebento", a cantriz (termo que ela mesmo adora adotar, se definindo uma espécie de cantora e atriz) sintetiza o conceito que norteou o repertório: "É um deleite para os ouvintes mais atentos. Um disco de amor, cheio de recados para quem gosta de dançar e que mostra uma alegria essencialmente nordestina", determina.

Em "Balaio de Amor" (o título é um verso de "Oferendar", do compositor pouco conhecido no Sul e Sudeste, Xico Bezerra), Elba retoma uma de suas principais características: apostar em talentosos compositores, principalmente da Paraíba e de Pernambuco, e emprestar a voz a baiões e xotes românticos. Em declaração ao "Jornal da Tarde", de São Paulo, ela justificou a escolha por autores que representam a tradição nordestina: "Essa é uma maneira de mostrar que não existe apenas o forró pornográfico, com bandas que não têm a menor pretensão de manter uma tradição cultural. Eles querem comércio, sacanagem, palavrão. Os compositores que eu escolhi representam a resistência".

O crítico carioca Mauro Ferreira acerta, ao comentar em seu blog (www.mauroferreira.blogspot.com.br), o repertório do CD: "A produção, assinada por Elba com o sanfoneiro Cezinha, embala com capricho os temas amorosos de compositores de projeção restrita ao Nordeste. Em boa forma vocal, a cantora usa tons suaves condizentes com o clima de músicas como ‘Fuxico’ (Flávio Leandro) e ‘É Só Você Querer’, de Nando Cordel e Fausto Nilo, uma das melhores já gravadas pela cantora’".

Quanto à voz, tão criticada, ganhou maturidade após três décadas de estrada. "Há 30 anos, a intérprete vibrante e de timbre marcante já estava lá, mas aprendi a explorar outras regiões vocais; o grave e o médio. A ansiedade da iniciante, que arriscava tudo, deu lugar para uma artista mais serena e dona da arte do seu ofício", avalia Elba. Em tempo: o show de abertura fica por conta do Trio Clandestino e os ingressos custam R$ 40 (pista, inteira, 1º lote) e R$ 50 (mesa, inteira, 1º lote).

Fonte: O Tempo

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